Relato da Contemplação da Lua 2019, reunião de poetas para contemplar a lua cheia de outono e compor haicais sobre a ocasião, realizada em 18 de abril de 2019, no Espaço Cultural Soto-Zenshu — Templo Busshinji, em São Paulo.
O QUE FOI
Durante o outono, quando a lua cheia surge de forma esplêndida, os japoneses costumam admirá-la e aproveitam para compor poemetos conhecidos por haicai ou haiku, acompanhados de comida e bebida.
Para os poetas de haicai, a estação do outono tem um significado profundo, de grande introspecção. A lua de outono é um dos temas preferidos deste exercício poético.
Simbolicamente, nesta estação, a lua se mostra mais próxima aos olhos do poeta e, portanto, imensamente grande. Veja como foi em 2018, 2017, 2016, 2015, 2014, 2013, 2012, 2011, 2010, 2009, 2008, 2007, 2006, 2005, 2004, 2003, 2002, 2001, 2000 e 1999.
COMO FOI
Numa noite do outono de 2019, dez poetas, entre novatos e veteranos, se reuniram no templo zen-budista Busshinji, situado no centro de São Paulo, para escrever haicais dedicados à lua, celebrando uma tradição de vinte anos. Mostramos alguns dos haicais dessa produção.
Um ano depois
Não somos os mesmos
Lua de outono.
Entre os prédios
Refletida nos olhos
Lua desta noite.
Carlos Bueno
Janela do templo —
Enquadrada lá no alto,
A lua cheia.
Haijins em silêncio
Anotam os seus haicais —
Lua-desta-noite.
Carlos Martins
Haijin sorrindo,
Nariz colado no vidro.
É a lua de outono.
Rebrilha a lua.
Dentro dos apartamentos
Pessoas vem TV.
Danita Cotrim
Fora do salão
Nenhuma folha se move:
Alvo luar de outono.
Amigos reunidos
A lua cheia é que nos observa
Aceno único.
Davi Rodrigues Bote
Lua-desta-noite:
Eu que sonhava em criança
ser um astronauta.
Tento distinguir
o rosto do velho amigo.
Lua-desta-noite.
Edson Kenji Iura
Sem nenhuma nuvem
sem se incomodar comigo
Lua solitária!
Parada no tempo
a lua ficou tão próxima.
— Pudesse pegá-la.
Francisco Handa
A horta de casa
já deve estar prateada —
Lua-desta-noite.
Hora do rush
No percurso engarrafado,
grande, a Lua Cheia!
Michela Brígida
Lua de hoje
Buraco cheio
Vazio de luz branca.
Aqui e na lua
Tão longe e bem perto
Silêncio.
Rafael Shoji
Varanda do templo —
Entre dois abacates
a lua cheia.
Mal reconheço
este prédio tão antigo —
Lua-desta-noite.
Em meio ao silêncio
Saudades não sei de quê…
Lua-desta-noite!
Teruko Oda
Lua já chegou —
dedos batucam na mesa
cinco-sete-cinco.
Lua que se vai —
Também estou de passagem
nesta noite escura.
Zekan Fernandes
REALIZAÇÃO
Espaço Cultural Soto-Zenshu (Templo Busshinji). Apoio Cultural: KakiNet