Durante o outono, quando a lua cheia surge de forma esplêndida, os japoneses costumam admirá-la e aproveitam para compor poemetos conhecidos por haicai ou haiku, acompanhados de comida e bebida.
Para os poetas de haicai, a estação do outono tem um significado profundo, de grande introspecção. A lua de outono é um dos temas preferidos deste exercício poético.
Simbolicamente, nesta estação, a lua se mostra mais próxima aos olhos do poeta e, portanto, imensamente grande. Veja como foi em 2010, 2009, 2008, 2007, 2006, 2005, 2004, 2003, 2002, 2001, 2000 e 1999.
Sob protestos cerrados, o evento foi marcado para uma ingrata segunda-feira paulistana. Por conta de compromissos pessoais ou presos no inferno do trânsito, muitos dos tradicionais participantes sequer puderam aparecer. Reduzidos a apenas seis heróis, os haicaístas postaram-se no terraço sem luz e sem qualquer outro conforto do anexo do Templo Busshinji, no bairro da Liberdade, para mais uma Contemplação da Lua. Por todas as direções, prédios obstruiam a visão do céu nebuloso e sem estrelas. Ainda assim, dando as costas a todas as adversidades e tapando os ouvidos à cacofonia da megalópole, os haicaístas lograram encontrar uma fresta entre dois edifícios, na qual surpreenderam a lua em toda a sua intimidade, passando a escrever os haicais que se seguem:
Finalmente surge
Entre nuvens passageiras
A lua da noite.
Alberto Murata
A lua de abril
Todinha resplandecente
Saúda os poetas.
Alberto Murata
No espaço entre os prédios,
Aparece entre nuvens
A tímida lua.
Alberto Murata
Poetas a postos.
Demora pra se mostrar
Luar da cidade.
Alberto Murata
Noite na rua
Quatro lanternas
A última é a lua
Danita Cotrim
Luzes da cidade
Competem com a lua.
Quem ignora quem?
Danita Cotrim
Cortina de nuvens
encerra a lua branca
Fim de expediente
Danita Cotrim
Seis adultos no telhado
Brincam de esconder com a lua
E viram crianças
Danita Cotrim
Os velhos remoçam
relembrando suas histórias
à espera da lua.
Edson Kenji Iura
A lua entre nuvens--
Bisbilhoto as janelas
dos prédios vizinhos.
Edson Kenji Iura
À espera da lua
luzes se acendem e apagam
nos prédios vizinhos.
Edson Kenji Iura
À espera da lua
no céu claro da cidade
nem mesmo uma estrela.
Edson Kenji Iura
Neste imenso céu
num jogo de esconde-esconde
procurem a lua!
Francisco Handa
Lua enevoada
no encontro do velho amigo.
Prosas e poemas.
Francisco Handa
Um suspiro apenas.
Surge radiante lua
por detrás das nuvens.
Francisco Handa
Por detrás das nuvens
de branco ficou a lua.
Rastros de poeira!
Francisco Handa
Procuro você
Lua oculta, em cima, longe.
Você fugiu.
Valéria Steiner
Olho para o céu
Entre as nuvens avermelhadas
Lua que se esconde
Valéria Steiner
Quatro pessoas
dois homens, duas mulheres
Desnuda-se a lua
Valéria Steiner
Nuvens paralisadas
e você se esconde, lua.
Falta um haicai
Valéria Steiner
Liberta das nuvens
surge a lua-desta-noite.
Silêncio nos prédios.
Zuleika dos Reis
A lua entre os prédios
vai e vem, vem e vai.,
É noite de abril.
Zuleika dos Reis
São muitos degraus
e nuvens demais no céu.
Saudade da lua.
Zuleika dos Reis
Terraço do templo.
Quantos mais estão à espera
da lua-desta-noite?
Zuleika dos Reis
CONTEMPLAÇÃO DA LUA EM SANTOS
Grêmio Haicai Caminho das Águas
Fonte do Sapo, Praia de Aparecida, 17 de março de 2011
Todo ano, a primeira lua cheia de outono atrai à praia os haicaístas de Santos. Logicamente isto acontece à noite. Desta vez, houve a ajuda do céu, e o tempo magnífico permitiu que pudéssemos ver a lua em sua plenitude por muito tempo. Noite clara, cujo brilho se refletia na face feliz dos amigos reunidos. Quiséramos que todos os queridos companheiros, de São Paulo, do Brasil inteiro, nossa mestra, Teruko Oda, aqui estivessem conosco. A alvíssima barraca posta à nossa disposição por cortesia da Prefeitura de Santos, a fantástica mesa preparada por Regina Alonso, com sua extrema sensibilidade, vieram completar a beleza da areia, das ondas e do horizonte pontilhado pelas luzes dos navios ancorados. Para trazer maior deslumbramento, bandos de garças pareciam também prestar sua homenagem à lua, e por que não?... aos poetas , encantados com seu voo leve. Noite perfeita. Assim se uniram prazer, devoção ao haicai, lembrança gratíssima dos mestres - Bashô e Goga - que sempre sentimos conosco. Novos companheiros, esperamos que permaneçam no Grêmio! (Sônia Adarias Soares Bruno)
Pela fresta da folhagem
Quanto brilho nos envolve!
Lua de abril.
Clara Sznifer
Nuvens se concentram
Mas não a encobrem --
Lua desta noite.
Clara Sznifer
Um bom motivo
Para rever os amigos --
Lua desta noite.
Clara Sznifer
Entre nuvens vermelhas
ela aparece sorrateira --
Lua desta noite.
Clara Sznifer
Lua morena
Dispensa olhares
Encanta a pequena.
Douglas Dutra
Ondas vão e vêm
Brilham intensamente
Ao surgir a Lua.
Eli Almeida
Ao som do mar
Bailam as nuvens
Sobre a Lua de outono.
Eli Almeida
Por entre as folhas
Olhos contemplam
Lua de outono.
Eli Almeida
Por entre as folhas
A claridade da Lua
Brinca de fantasmas.
Eunice Tomé
Olhando a Lua
Andarilhos da noite
Festejam a vida.
Eunice Tomé
O clarão da Lua
Traz memoráveis imagens --
Cenário de sombras.
Eunice Tomé
Na Fonte do Sapo
Mar ondulado de sombras --
São rastros da Lua.
Eunice Tomé
De traz do prédio
Ela soberana aparece --
Lua desta noite.
Jaíra Presa
Sozinha no céu
Brilha nas águas do mar --
Lua desta noite.
Jaíra Presa
Banco do jardim --
Sentado, espero que surja
Lua de Bashô.
Jaíra Presa
Nuvens dançarinas
Por vezes te ocultam,
Lua de outono.
Luciana Almeida
Nuvens rosáceas
Passeiam sobre ti,
Lua de outono.
Luciana Almeida
Lua emoldurada
Por entre as folhas --
Natureza artista!
Luciana Almeida
Lua de São Jorge --
A mesma dos namorados,
brilha para nós.
Marcelo Matias
Uma noite, um livro --
Na areia, reunião festiva
sob a luz da Lua.
Marcelo Matias
Lua de outono -
No mar a espuma branca
brilha como prata.
Marcelo Matias
Lua desta noite --
Gaivotas sobrevoam o mar
e encantam o olhar.
Marcelo Matias
No alto do prédio
curiosa espia e esconde --
Lua desta noite.
Maria Heloísa
Já desfeita
a cortina esgarçada --
Lua desta noite.
Maria Heloísa
Na tenda da praia
o sagrado e o profano --
Lua desta noite.
Maria Heloísa
Saída da barra --
Brilha sobre o navio
Lua desta noite.
Maria Heloísa
No topo do prédio
Equilibra-se... não cai!
Lua de Bashô.
Mahelen Madureira
Brinca de esconder
Entre nuvens corrediças --
Que Lua sapeca!
Mahelen Madureira
Não quer banhar-se
Nas águas frescas do mar,
Lua enevoada?
Mahelen Madureira
Olhos acompanham
O cargueiro que se afasta --
A Lua escondida.
Mahelen Madureira
Quase madrugada --
Na praia agora deserta
A Lua nas ondas.
Mahelen Madureira
Som do mar
Embala a noite clara --
Lua de outono.
Marina Drin
Coberta pelas nuvens
Surge com brilho maior
Lua de outono.
Marina Drin
Viro o pescoço --
No buraquinho entre folhas
Lua desta noite.
Marly Barduco Palma
Grupo de haicaístas
acompanham na praia
Festa da Lua!
Marly Barduco Palma
Lua de Bashô
empresta seu brilho
às ondas do mar.
Marly Barduco Palma
Haicaístas correm
cercando por todo lado
Lua de Bashô.
Marly Barduco Palma
Nem sempre disposta
Para brincar com as nuvens
Lua desta noite.
Neila Bittencourt Pereira
Para um instante
Correria atrás da bola --
Rola a lua no céu.
Paulo R. Rodrigues
Marcação cerrada --
Nos olhares entre nuvens
Lua cobiçada.
Paulo R. Rodrigues
Breve visita
Só pra dar o "ar da graça" --
Lua desta noite.
Paulo R. Rodrigues
Papo de poetas --
Conversa jogada fora
Enquanto a lua não vem.
Paulo R. Rodrigues
Baile na praia --
Nada atrapalha os poetas
Que louvam a Lua.
Sônia Adarias Soares Bruno
São dos navios
Inúmeras luzes distantes --
Mas a da Lua é nossa.
Sônia Adarias Soares Bruno
Na areia entre palmeiras
O sorriso dos poetas --
Finalmente a Lua!
Sônia Adarias Soares Bruno
Praia quase vazia
Só murmúrio de poetas --
Lua desta noite.
Sônia Adarias Soares Bruno
Degustando o chá
sobre a esteira de palha...
E surge a Lua.
Regina Alonso
Folhas de coqueiro
tecem sombras na areia --
A lua entre nuvens...
Regina Alonso
Aos olhos do poeta
subitamente entre as nuvens...
Lua desta noite.
Regina Alonso
Balanço de folhas...
Ao vento da noitinha
recorta-se a lua.
Regina Alonso
O vento canta
e com humildade
a lua surge.
Regina Peres
A noite fala
mas é a lua que
traduz sua voz.
Regina Peres
Toco na areia
Sensação de magia
que a lua vem ver.
Regina Peres
CONTEMPLAÇÃO DA LUA NO RIO DE JANEIRO
Grêmio Haicai Águas de Marços e Grêmio Haicai Sabiá
Bar do Amarelinho, Cinelândia, 18 de março de 2011
A Cinelândia é o nome popular da Praça Floriano Peixoto no centro de Rio de
Janeiro. Em tempos coloniais, a estrutura principal na área da Cinelândia foi o
Convento da Ajuda, construído em torno de 1750. A forma da Cinelândia de hoje
começou a se desenhar no início do século 20, quando o Governo brasileiro achou
que a cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, precisava ser
totalmente reformulada. Durante as primeiras décadas do século 20 uma série de
monumentais edifícios públicos foi construída de frente para a praça. No centro da
praça, foi erguido em 1910 um monumento ao Marechal Floriano Peixoto, o segundo
presidente da República. O antigo Convento da Ajuda sobreviveu à primeira
remodelação da praça, mas foi demolido em 1911. Em seu lugar, foram construídos
uma série de edifícios altos que concentravam vários cinemas da cidade. Foi
devido a estes cinemas que a área se tornou conhecida, popularmente, como
Cinelândia. A maioria dos cinemas foi fechada, mas, a região ao seu entorno,
ainda é um dos locais animados do Rio, graças aos seus bares, restaurantes e
atrações culturais.
Neste ano, os Grêmios do Rio de Janeiro fizeram a Contemplação da lua no
ambiente mágico da Cinelândia. A espera foi longa, pois marcamos para as dezoito horas o encontro no bar do
Amarelinho e a lua só apareceu sobre os prédios às vinte e trinta. Os poetas que
permaneceram no local compuseram seus poemas. Vejam abaixo.
Após longa espera,
copos vazios no bar...
No alto a lua cheia.
Benedita Azevedo
Bem depois do sol
nenhuma sombra na praça -
Luz da lua cheia.
Benedita Azevedo
Nesta Cinelândia,
quantas personagens viram
esta mesma lua?
Benedita Azevedo
Um chope gelado
e o burburinho na praça -
Vem nascendo a lua.
Benedita Azevedo
O zunzum aumenta
sob o toldo amarelo...
Ah... a lua cheia!
Douglas Eden
Noite esperada!
No céu escuro a brilhar
a primeira lua.
Douglas Eden
Passam carros e ônibus
defronte ao Amarelinho...
E a lua no alto.
Douglas Eden
A pouco e pouco
as mesas ficam desertas,
Mas a lua cheia...
Douglas Eden
O brilho da lua
Sobre o Centro da cidade -
Noite carioca.
Celso Pestana
Teatro Municipal -
A águia dourada abre as asas
Para a lua cheia.
Celso Pestana
Happy hour
No bar do Amarelinho -
Só falta a lua.
Celso Pestana
Frango a passarinho -
Do outro lado da praça
Vem surgindo a lua.
Celso Pestana
Na Cinelândia
Haicaístas se reúnem -
Ver a lua cheia.
Iraí Verdan
Juntos os haicaístas
Aguardam a convidada -
Lua-desta-noite.
Iraí Verdan
Lua cheia alta -
Espalha raios prateados
E clareia a noite.
Iraí Verdan
No céu, lua cheia.
Na rua a sombra de um prédio
Escurece a noite.
Marilza Albuquerque de Castro
Luz da lua cheia
ilumina a Cinelândia.
Quanto sentimento!
Marilza Albuquerque de Castro
Lá entre os prédios
Um clarão e um pedaço
Da lua cheia.
Regina Coeli
Que lua cheia!
Trocaram a pilha hoje
Na rua a jovem brinca.
Regina Coeli
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