CONTEMPLAÇÃO
DA LUA 2003 |
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REUNIÃO DE POETAS PARA CONTEMPLAR A LUA CHEIA DE OUTONO
E COMPOR HAICAIS SOBRE A OCASIÃO.
18 de março de 2003. 19:00h. Espaço Cultural Soto-Zenshu
Templo Busshinji - Rua São Joaquim, 285, São Paulo
O QUE É
Durante o outono, quando a lua cheia surge de forma esplêndida, os japoneses costumam admirá-la e aproveitam para compor poemetos conhecidos por haicai ou haiku, acompanhados de comida e bebida.
Para os poetas de haicai, a estação do outono tem um significado profundo, de grande introspecção. A lua de outono é um dos temas preferidos deste exercício poético.
Simbolicamente, nesta estação, a lua se mostra mais próxima aos olhos do poeta e, portanto, imensamente grande. Veja como foi em 2002, 2001, 2000 e 1999.
QUANDO FOI
18 de março de 2003, terça-feira, dia da lua cheia mais próxima do equinócio de outono (20 de março). Horário: a partir das 19:00h
ONDE FOI
Espaço Cultural Soto-Zenshu -Templo Busshinji. Rua São Joaquim, 285, Liberdade, São Paulo. Próximo ao Metrô São Joaquim.
COMO FOI
Por Sennin
Templo Busshinji, 18 de março de 2003. Nove haicaístas reunidos no pátio dos fundos à espera da lua cheia. Mas ela não se mostraria de imediato. A cidade implacável impunha suas condições. O templo, uma estrutura de madeira encaixada, construída à maneira tradicional japonesa, é cercado por altos edifícios que tapam a visão do horizonte. A única exceção é um vão, a leste, que serviria de moldura para o trajeto inicial da lua em sua viagem de uma ponta a outra do firmamento. Ainda assim havia problemas. A nebulosidade do dia continuava no início da noite, dando passagem apenas à luz de uma ou duas estrelas. Já eram mais de 19:30 e os olhos dos haicaístas ainda vagavam ansiosos pelas frestas entre um prédio e outro. Foi então que um clarão surgiu no céu, entre dois prédios, exatamente onde era de se esperar. E este clarão tornou-se cada vez mais forte, até distinguir-se o disco lunar atrás de um manto de nuvens. E quando até mesmo este manto sutil se dissipou, apareceu a lua com todo o seu mistério.
OS HAICAIS
A lua teimosa
Demora pra se mostrar.
Mas eis que afinal...
Como manjar branco,
Uma apetitosa lua
Servida aos poetas.
Alberto Murata
Procura... procura...
Entre os altos edifícios
A lua de outono
Atrás da fina névoa
Acende os olhos da noite
A grande lua.
Lua de outono
Dentro do meu coração
Desejo de paz!
De longe, meus filhos
Contemplam a mesma lua
Nossa distância é menor
Lua de outono...
Eu ainda buscando
Novos caminhos
Carol Ribeiro
Velhos companheiros!
Mesmo que não venha a lua
O encontro esperado.
Até mesmo o cão
quando a lua surge imensa
deixa o queixo cair.
Francisco Handa
Esperando a lua
E os amigos também --
Templo Busshinji.
Ao olhar o espelho
Encontro um rosto redondo --
Noite de lua cheia.
Toda envolta em gaze
Como num velho poema --
Lua desta noite.
Os olhos no céu
Da mamãe e seu filhote --
Lua desta noite.
Edson Kenji Iura
A lua de outono
Aparece de repente
Tirada de um quadro
No meio dos prédios
Felicidade geral
Aparece a lua
Entre dois prédios
Coberta pelas nuvens
A lua de outono
Ian Carvalho
A lua veio?
Lua não veio.
Onde foi o teu passeio?
Um clarão...
Passo a passo,
De repente a lua inteira
Luís Gustavo Tramontin
Como um balão
Sobe lentamente a lua.
Buzinas e cães.
Gritos urbanos
Ecoam no silêncio
Lua cheia.
Marcos Reigota.
Gato está na janela
olha e mia
para a lua.
Shôjin Augusto Bustamante
Céu cinza no templo --
Talvez na serra, a brincar,
lua-desta-noite.
Como quem se levanta
após um sonho bom --
Lua no horizonte.
Silêncio profundo --
Apenas os olhos falam
com a alma da lua.
Mais prece que verso
a gratidão do poeta --
A lua do templo.
Teruko Oda