Os três primeiros haicais Fanny Dupré, amiga e orientadora Influência de Guilherme de Almeida? Helena e Leminski A palavra é uma vivência pessoal Reika, seu nome de haicaísta Helena e a tanka Helena e o senryu Mais alguns haicais de Helena Kolody Vida e obra no tempo Referências e notas
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Carlos Drummond de Andrade enviou em 1980 uma pequena carta à poetisa, onde dizia: "Tão simples, tão pura - e tão funda - a poesia de Infinito Presente. Você domina a arte de exprimir o máximo no mínimo, e com que meditativa sensibilidade!"10 É do livro citado, entre outros, este haicai:
Luz Interior
O brilho da lâmpada
no interior da morada
empalidece as estrelas.
No segundo livro de Helena, Música Submersa, de 1945, saiu um haicai, o Pereira em Flor:
De grinalda branca,
Toda vestida de luar,
A pereira sonha.
Drummond, segundo Kamita,18 fez um elogio dizendo ter ficado feliz com poemas como esse, "em que à expressão mais simples e discreta se alia uma fina intuição dos imponderável poéticos".
A natureza vivencial da maioria de seus haicais pode-se perceber quando Helena conta a história desse Pereira em Flor:
"Eu morava na Rua Carlos de Carvalho. Uma noite, ao sair da casa de uma amiga, dei com aquela pereira completamente florescida, banhada pela luz da lua cheia. A beleza do quadro foi um impacto na minha sensibilidade. Fiz o poema bem mais tarde. Associei a pereira com uma noiva: a noiva toda vestida de branco, sonhando, com a pereira ao luar".4
Ainda frisando este aspecto importante do haicaísta, qual seja o da observação, contemplação e vivência, base da poesia de haicai, cito outra história de Helena: "Estou numa idade em que dou-me ao luxo de sair nas ruas com a maior tranqüilidade e parar para contemplar uma árvore, um pássaro, um transeunte - sem temer o ridículo. Dia destes, quando cruzava a Praça Rui Barbosa, vi uma pena de pombo cair na calçada. Apanhei-a, contemplando-a, e na hora pensei num poema. Como tinha apenas um lenço de papel, foi nele que escrevi:
Apanhei na calçada
Uma pena de pombo
Aprisionei
Um momento
De vôo e vento"19
Leiamos algumas frases ditas por Helena na entrevista da Biblioteca,4 as quais nos dão uma idéia do seu fazer poético:
"Quando menos espero, e nas ocasiões mais imprevistas, começo a sonhar palavras".
"Na hora, invade-me a indizível alegria de criar".
"É verdade que, no fundo, todo poeta é autor e leitor de seu poema. É autor na hora da inspiração, quando entra "em estado de poesia." (...) No momento da inspiração, somos autores. Depois, o poeta lê o poema, avalia a composição, corta, acrescenta, substitui vocábulos. É a fase do leitor".
"O poeta, a princípio, escreve para si mesmo, entrega-se ao prazer de criar; depois, quer alcançar o leitor. Sem isso, a poesia deixa de ser comunicação".
"Há dois tipos de temas em minha poesia: os que refletem meu próprio Eu, confessionais, e os que mostram minha preocupação com os outros e com os problemas do mundo, ou seja, temas do eu íntimo e do eu social. Uso muito imagens, metáforas, símbolos tirados da paisagem. Sou uma enamorada da beleza do mundo que me cerca".
"Creio que há sugestões plásticas em meus versos. Uma amiga pintora disse que meus poemas poderiam ser pintados".
"Embora não pareça, o verso moderno é muito mais sutil e mais difícil do que o tradicional".
"Como recursos estilísticos, uso muito aliterações, anáforas e outros recursos fonéticos".
"Há um elemento lúdico no fazer poético, uma emoção de prazer, como em qualquer jogo. É um jogo fascinante, feito com palavras".
"Creio que uma das características do poeta é essa paixão pela palavra e pela leitura. A leitura amplia nossos horizontes, enriquece nossa arte. É preciso ler, ler e ler".
"A sensibilidade do poeta é como a da harpa eólica que os gregos penduravam nas árvores, e que vibrava com o menor sopro de vento. Ele vibra intensamente, não só com as próprias emoções; capta, com o radar da imaginação, o sentir do outro, o viver do outro. Esse ver os outros com os olhos da imaginação é, também, um dom do poeta; nem sempre é a sua própria experiência que ele expressa em versos. Incorporamos em nossa vivência as vivências alheias que nos atingem, nos alegram, ou nos fazem sofrer".
E, perguntada sobre como escreveu o haicai Pereira em Flor,
esclareceu: "As impressões que me atingem vão se acumulando em meu inconsciente e elaborando uma espécie de húmus, no qual se misturam impressões de muitos tempos; desse húmus brota o poema, impregnado de minha própria personalidade".4 E mais adiante, diz: "Junto com a alegria de criar, existe a agonia de perseguir o inatingível.
"persigo um pássaro
e alcanço apenas
no muro
a sombra de um vôo".4
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