Os três primeiros haicais Fanny Dupré, amiga e orientadora Influência de Guilherme de Almeida? Helena e Leminski A palavra é uma vivência pessoal Reika, seu nome de haicaísta Helena e a tanka Helena e o senryu Mais alguns haicais de Helena Kolody Vida e obra no tempo Referências e notas
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Helena ficou feliz quando Paulo Leminski, em 1965, elogiou seus haicais. Ele seria seu vizinho no edifício São Bernardo por três movimentados anos da vida dele, que, com 20 anos, já tinha fama de poeta e agitador cultural na cidade. O biógrafo de Leminski, Vaz, assim se referiu a este fato: "Foi também nesta época que conheceu pessoalmente a poeta Helena Kolody, uma filha de ucranianos bem mais velha, que morava no andar de cima - e desde os anos 40 fazia poemas em forma de hai-kais".14
Em 1968, ao fazer um prefácio para um livro do poeta Mário Stasiak, seu amigo, Leminski escreveu: "Lembrai-vos, irmãos, que o maior génio poético do Paraná é de raiz eslava, sendo Helena Kolody (pronunciar: Guélena Kolódi)".15 A esse admirador apaixonado, Helena correspondia com igual afeto, ela que havia deixado um tanto de lado o haicai, disse: "Só voltei ao haikai quando o Paulo Leminski, então um jovem de 20 anos, vizinho de apartamento, descobriu-me como a primeira pessoa a fazer haikai no Paraná".16
Para a biografia de Leminski, Helena deu um emocionado depoimento (cito um trecho): "Ele me emprestou as revistas Invenção e Noigandres e foi assim que tomei conhecimento do concretismo em S. Paulo. Mas, quando veio me procurar, ele já estava em outra. Estava interessado em haikais e se surpreendeu ao encontrar três deles em meu livro Paisagem Interior, de 1941. Por isso ele me procurou. Mas, o verdadeiro haikaísta era ele. Nesta ocasião, estava aprendendo japonês para mergulhar no espírito da língua e na cultura oriental. Por isso seus haikais foram tão autênticos".14
Os anos 80 foram "leminskianos" em Curitiba. Apesar de Leminski achar que a cidade não tinha uma vida cultural (como ele desejava), sua Culturitiba - "Sem raízes e sem carências, que fazer?"17 - foi o palco de sua vida e obra. Inúmeros valores literários apareceram nesse tempo, principalmente a consagração da poeta Helena Kolody (a "Padroeira da Poesia", como ele dizia). Se Leminski se tornou um mito, Helena seguiu junto, ampliando o espaço mítico deixado por ele em 1989.
Quando em 1985 Helena reinaugura-se, lançando Sempre Palavra, fina concisão poética, incluindo três haicais, Leminski tece-lhe rasgados elogios. Seu texto tinha o título de Santa Helena Kolody,4 e diz que o livro "inclui uns quarenta pequenos poemas. Mas tem luz bastante para iluminar esta cidade por todo um ano". Segue fazendo comparações e sugerindo análises mais profundas, e acrescenta: "Nossa padroeira é o poeta mais moderno de Curitiba, de uma modernidade enorme, uma modernidade de quase oitenta anos. Nenhum de nós tem modernidade desse tamanho". E termina: "Tem certas manhãs azuis em Curitiba, mas tão azuis, tão azuis, que eu tenho certeza: Helena Kolódy acordou cedo e olha por todos nós". É desse livro este haicai:
Gestação
Do longo sono secreto
na entranha escura da terra,
o carbono acorda diamante.
Aos estímulos do amigo poeta, Helena respondeu com mais livros, mais poemas de amor pela poesia. E dedicou a ele, não um haicai, mas um de seus dísticos (que ela sabia utilizar com mestria), Figo da Índia (1986):
A casca espinhenta
guarda a macia doçura da polpa.
Mais tarde, ela diria: "Ele, às vezes, parecia agressivo. Todavia, tinha uma polpa doce, ele era muito carinhoso. Tanto que ele me fez uma dedicatória: "Mãe querida, nada como ter uma fada na vida".16
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