Os três primeiros haicais Fanny Dupré, amiga e orientadora Influência de Guilherme de Almeida? Helena e Leminski A palavra é uma vivência pessoal Reika, seu nome de haicaísta Helena e a tanka Helena e o senryu Mais alguns haicais de Helena Kolody Vida e obra no tempo Referências e notas
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Fanny Luíza Dupré vinha, desde 1939, escrevendo haicais e preparando um
livro (Pétalas ao Vento), tendo feito "contato com o haicai ao freqüentar o grupo de estudos de cultura japonesa mantido por Jorge Fonseca Jr. na Faculdade de Direito da USP".6 Foi com ela que Helena estudou o haicai. Trocavam cartas, indicações de leitura, e é provável que Fanny tenha visitado Curitiba nesse período, cujo registro se pode ler no haicai da página 89 do Pétalas ao Vento:
"Pinheirais augustos.
Curitiba. Paraná...
Vestidos de verde".
No livro há também um haicai dedicado a Helena, pág. 45:
"À Helena Kolody
Vastos pinheirais!
É clara noite de lua...
Mais abaixo, o mar!"
Na entrevista do MIS,5 pág. 31, Helena afirma: "Em 41 já publicava, por causa da correspondência com uma poetisa paulista chamada Fanny Dupré; foi através dela, uma das pioneiras do hai-kai, ainda agora eu recebi carta dela de São Paulo [1989 - Fanny faleceu em 1996]. Então, já no primeiro livro eu fiz hai-kai, porque tinha aprendido com ela..."
Na entrevista da Biblioteca,4 pág. 27, Helena acrescenta mais um dado: "Foi através do Jornal de Letras e da correspondência com a poetisa paulista Fanny Dupré que tive conhecimento dessa miniatura japonesa que é o hai-kai" (Revisei todos os números do Jornal de Letras da época e não encontrei nenhuma matéria sobre haicai ou poemas deste tipo publicados. O que me leva a crer que o primeiro contato com o aprendizado do haicai, Helena teve mesmo foi com a poetisa paulista).7
Através de Fanny, Helena estava ligada ao seleto grupo dos iniciadores do haicai no Brasil, em língua portuguesa, especialmente a Jorge Fonseca Júnior, orientador da amiga paulista. Fonseca, que inicialmente teve influência (como os demais brasileiros) do haicai europeu (pela via francesa, inglesa e portuguesa), já vinha recebendo desde 1937 "informações e esclarecimentos sobre o haiku",2 de Masuda Goga (considerado um Mestre do haicai,9 cuja linha é japonesa). Goga e Fonseca mantiveram um "relacionamento de 50 anos (1937/1987)".8 Ele publica em 1939, Roteiro Lírico, e em 1940, Do Haikai e em seu louvor, bem recebidos pela crítica. Fonseca viaja ao oriente neste ano, Masuda2 anota: "...durante sua estada no Japão, avistou-se com Kyoshi Takahama,9 enriquecendo seus conhecimentos sobre o haiku - fator muito positivo na evolução do seu haicai".
Em 1940, em Do haikai e em seu louvor,8 o apresentador de Fonseca destaca como qualidades do seu haicai a concentração, sutilidade, imaginação. Fonseca Júnior recomenda a feitura do poema em dezessete sílabas de 5-7-5, em três versos e sem rima. "Superior sutileza do haikai. Um verdadeiro haikai poderá exprimir o sentimento mais forte, sutilissimamente". E compreendia seu conteúdo como "multiangular, sempre e todos lhe descobrirão fartos sentidos, a par de sonoridades, coloridos, sabores e sensações variadas. (...) Delicioso valor da brevidade".
No livreto O Haicai no Brasil,2 Masuda aponta para a "influência de Kyoshi Takahama" sobre o haicai de Fonseca, que passa a defender a utilização da presença do termo de estação (kigo) em um dos três versos: "Assim (...) quanto ao haiku (...) deve indicar ou refletir a estação do ano (ao menos indiretamente) em que é elaborado; e caracterizado, portanto, por sua extrema concisão, devendo, ao mesmo tempo, através desta, fluir com naturalidade o conteúdo poético". Acrescenta ser "desnecessário colocar título em cada poema de haicai, nem observar rima".
Um haicai de Fonseca, citado em Masuda:
"Brisas refrescantes
esgueiram-se ao sol ardente...
Penumbra do tato..."
Fanny seguirá seu professor na forma sugerida, nos haicais de Pétalas ao Vento, o rigor da métrica, a dispensa de títulos, menos no uso do kigo (que ela não o faz), e desenvolve uma temática brasílica de lirismo delicado. Helena, por sua vez, colocará título em seus haicais, utilizará da métrica, algumas vezes a rima; e terá uma temática mais voltada à condição humana. Diferenciando-se, por certo, da amiga Fanny, constrói Helena seu próprio jeito de fazer haicai, sempre fiel às suas vivências, como pregava Fonseca.
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