Os três primeiros haicais Fanny Dupré, amiga e orientadora Influência de Guilherme de Almeida? Helena e Leminski A palavra é uma vivência pessoal Reika, seu nome de haicaísta Helena e a tanka Helena e o senryu Mais alguns haicais de Helena Kolody Vida e obra no tempo Referências e notas
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Em 1941 Helena Kolody, com 29 anos de idade, publicava seu primeiro livro, Paisagem
Interior,1 com 45 poemas. Entre os quais três eram haicais e, no meio destes, o mais popular da autora:
Arco-íris
Arco-íris no céu.
Está sorrindo o menino
Que há pouco chorou.
Os outros dois:
Prisão
Puseste a gaiola
Suspensa dum ramo em flor,
Num dia de sol.
Felicidade
Os olhos do amado
Esqueceram-se nos teus,
Perdidos em sonho.
Era a primeira vez que uma mulher publicava haicais no Brasil. A segunda foi
Rosemary de Barros em 1947, na Revista ASSA, do Centro Acadêmico da Universidade Católica de São Paulo, que segundo Masuda:2 "...divulgou cinco haicais, fortemente influenciados por Guilherme de Almeida". E, a terceira, Fanny Luíza Dupré, em 1949, também de São Paulo.
Todavia, foi Fanny Dupré a primeira mulher a publicar um livro exclusivamente de haicais no Brasil, em fevereiro de 1949: Pétalas ao Vento, em cujo prefácio o haicaísta Jorge Fonseca Junior salientou: "...este livro se inclui, sem dúvida, na primeira meia dúzia de coletâneas exclusivamente de haikais publicadas em português e em nosso País e é, por certo, entre elas, o primeiro de autoria feminina, sendo, mais - o que muitíssimo importa - obra de autêntica haikaista."3
Helena sempre fez questão de dizer que seus primeiros haicais não foram bem recebidos. O que a desanimara não a impediu de continuar a fazê-los, pois em 1945, no segundo livro, Música Submersa, o haicai estava lá, com o famoso Pereira em Flor. Entretanto, como dissemos, é justamente daqueles primeiros que o público consagrou o seu favorito: Arco-íris. O mais citado, copiado e incluído em antologias. Talvez Helena quisesse uma aceitação maior para os seus haicais, naquela ocasião, pois o livro fora recebido com relativo sucesso para uma estreante. Os outros poemas sempre foram muito citados, como o famosíssimo Prece, p. ex., e já continham a marca indelével de sua poesia: a concisão e a simplicidade (certamente qualidades exigidas no haicai). Na entrevista pública, Um escritor na Biblioteca,4 de 1986 (na qual participaram Paulo Leminski e Alice Ruiz como entrevistadores), ela fala sobre o assunto: "Os literatos e os críticos simplesmente ignoraram essa poesia que ninguém, ainda, estava fazendo no Paraná. No entanto, meus alunos, alunas principalmente, decerto porque eram muito jovens, e os jovens adoram novidades, gostaram muito. Tanto que a turma de 1943, se não me engano, ofereceu-me, como presente de aniversário, seis quadros, em pergaminho, com ilustrações dos três hai-kais de Paisagem Interior: três quadros de Guido Viaro e três iluminuras de Garbácio." No depoimento que concedeu ao Museu da Imagem e do Som, em 1989, ela reforçou esse ponto dizendo que sabia fazer o haicai, "... tinha técnica e tudo, mas ninguém ligou. Então a gente se complexa".5
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