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Encontro Brasileiro de Haicai

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14o Encontro Brasileiro de Haicai

Trilhas do Haicai no Brasil

14o Encontro Brasileiro de Haicai

1a Mostra Internacional Imagens do Haicai

9 e 10 de novembro de 2002 - Unicamp - Campinas - Brasil

Arte: Pipa (Estúdio Ponto Design)

Realizou-se com exito o 14o Encontro Brasileiro de Haicai, durante os dias 9 e 10 de novembro de 2002 na Casa do Lago, espaço cultural da Universidade de Campinas. Aberto ao público e contando com representantes de vários estados do Brasil, além do afluxo de caravanas de estudantes, o evento consistiu de dois dias de atividades e reflexões sobre o haicai, minúscula forma poética que vem atraindo cada vez mais a atenção dos brasileiros.

Foram dias inesquecíveis onde o público pôde passear por uma exposição de haicais, aprender com as palestras, acompanhar a diversidade de idéias expostas nas mesas-redondas, comprar livros e participar do grande concurso final. Foi também o momento de encher os olhos com o pioneirismo brasileiro da primeira mostra mundial de vídeos sobre haicai. Tudo isso em meio a uma original feira de cultura japonesa, tendo por pano de fundo a bucólica paisagem da Casa do Lago, privilegiado espaço arquitetônico encravado no campus de uma das mais prestigiosas universidades brasileiras.

Veja a galeria de fotos.


Sábado, 9 de novembro

A programação do Encontro começou na manhã de sábado, no auditório da Casa do Lago, com a saudação de abertura pelo professor Paulo Franchetti, livre-docente da Unicamp e diretor-executivo da Editora da Unicamp, que logo cedeu a palavra ao haicaísta Edson Kenji Iura, que proferiu palestra sobre os 15 anos de fundação do Grêmio Haicai Ipê. Na seqüência, a poeta e haicaísta Alice Ruiz magnetizou a platéia com seu lendário carisma ao falar um pouco de si mesma e de seu haicai na palestra intitulada "Brasileira e haicaísta".

O momento do almoço serviu para confraternizar os participantes em torno de uma praça de alimentação montada no lado exterior da Casa do Lago, onde destacavam-se pratos populares da cozinha japonesa, como o sushi e o yakissoba, mas sem desagradar paladares menos acostumados à culinária exótica, fornecendo também sanduíches, refrigerantes, sorvetes e outros petiscos. Um pouco recuada, preparava-se a oficina de cerâmica tradicional japonesa "raku", por professores e alunos do Instituto de Artes da Unicamp, a ser conduzida durante todo o resto da tarde.

Durante a tarde, a mesa-redonda "O que é haicai" monopolizou as atenções do público no auditório, tendo Paulo Franchetti como mediador e juntando em uma mesma mesa o mestre de haiku em japonês Yoichiro Kimura e os haicaístas Celso Pestana e Alice Ruiz, cada um com sua concepção de haicai, dentro da proposta temática do Encontro, "Trilhas do Haicai no Brasil", que é a de mapear os diversos caminhos percorridos pelo poema de três versos. Ao fim da mesa-redonda, iniciou-se uma audição de koto (harpa japonesa) e shakuhachi (flauta japonesa).

Seguindo-se a esta atividade, iniciou-se o bate-papo sobre haicai e internet, reunindo os webmakers Carlos Seabra (Caixa de haikai), Rodrigo Siqueira (Projeto Poesia) e Edson Kenji Iura (Caqui) e mediado pelo videomaker Guto Carvalho, discutindo os destinos do haicai pela rede, a interatividade e a fusão das mídias. Do lado de fora, a haicaísta Teruko Oda conduzia uma oficina informal, passando a um grupo de interessados, todos sentados em círculo no chão, o be-a-bá do haicai.

A programação do sábado terminou no fim da tarde com uma cerimônia de chá (estilo sen-cha), um ritual de grande paz e introspecção do qual participaram representantes da Unicamp, membros da comissão organizadora e o público em geral.


Pioneirismo brasileiro

Simultameamente ao Encontro Brasileiro de Haicai, realizou-se um evento único no mundo, que é a 1a Mostra Internacional Imagens do Haicai, com curadoria de Guto Carvalho. Evidenciando o pioneirismo brasileiro, cineastas do Brasil, Europa e EUA enviaram sem hesitação seus trabalhos para serem exibidos na sala de projeção da Casa do Lago, genericamente classificados como "video-haiku", que não são simples transcrições de haicais escritos, mas representantes de uma nova forma artística, transposição semiótica das características tradicionais do haicai japonês para o cinema e para o vídeo, uma "intensificação do processo de montagem", na feliz alusão de Paulo Franchetti ao famoso ensaio de Sergei Einsenstein.

O principal representante do "video-haiku" no Brasil, o mineiro Almir Almas, esteve presente ministrando uma oficina de vídeo aos interessados, que produziram vídeo-haikus exibidos no fim do domingo. Completando a Mostra, também foram exibidos o curta-metragem "Goga Masuda, discípulo de Bashô", de Guto Carvalho e Carol Ribeiro, e dois programas produzidos pela TV japonesa sobre a cultura de haicai no Brasil. Uma atração à parte foram os quiosques multimídia, computadores contendo haicais animados em "flash" de Antonio Cristino (Rio de Janeiro) e o programa para composição de "poesia infinita" (renga digital) de Rodrigo Siqueira (São Paulo), todos abertos à interação com o público.


Domingo, 10 de novembro

O domingo caracterizou-se pela chegada de caravanas de estudantes dos estados do Paraná e de São Paulo para participarem do Grande Desafio da tarde e da cerimônia de premiação do 1o Concurso Brasileiro de Haicai Infanto-Juvenil, a serem realizados simultaneamente.

A programação da manhã iniciou-se com a palestra sobre zen e poesia do bispo Koichi Miyoshi, superior da escola Soto-Zen para a América do Sul, cujas palavras cheias de inspiração prepararam o estado de espírito dos participantes para o resto do dia. Seguiu-se a mesa-redonda "O haicai no Brasil", mediada por Edson Kenji Iura e reunindo os haicaístas Douglas "Guin Ga" Eden, Zemaria Pinto e Teruko Oda. Os dois primeiros traçaram um quadro da situação e perspectivas do haicai em seus estados (Rio de Janeiro e Amazonas), enquanto coube a Teruko Oda falar sobre o futuro do haicai, ou melhor dizendo, sobre o ensino do haicai para crianças das escolas fundamentais.

Do lado de fora, no saguão de exposições, uma oficina de origami (dobraduras de papel) e uma demonstração de shodô (caligrafia japonesa) monopolizavam as atenções. Neste mesmo saguão, desde o dia anterior, uma exposição de haicais em painéis, pôsters sobre poetas de haicai japoneses e brasileiros e livros e objetos ligados ao haicai vinha recebendo a atenção dos visitantes.

A tarde de domingo ficou reservada para o clímax do Encontro, com a realização do concurso de haicai, este ano batizado de Grande Desafio. Em 20 minutos, os presentes deveriam compor um haicai sobre o tema pré-estipulado, que neste ano deveria ser "lírio-branco" ou "abelha". Iniciada a contagem regressiva, o mais completo silêncio instalou-se no auditório da Casa do Lago, durante o qual os participantes esforçavam-se em escrever seus poemas. Findo o tempo, recolheram-se os haicais e começou o julgamento pela banca de jurados.

Antes do anúncio dos ganhadores, procedeu-se à premiação do 1o Concurso Brasileiro de Haicai Infanto-Juvenil, uma iniciativa do Grêmio Haicai Ipê envolvendo 52 escolas fundamentais de quatro estados e mais de 1000 alunos inscritos. O tema do concurso foi "a fauna ou a flora de sua região". O concurso durou de agosto a outubro de 2002. Foram premiados 10 colocados e mais 10 menções honrosas, com premiados entre 7 e 14 anos de idade. Foram também distribuídos prêmios de incentivo aos professores.

Por fim, teve lugar a premiação do Grande Desafio, com sete colocados e mais três classificações "hors concours". A novidade deste ano foi a integração das categorias infantil e adulta, para provar a tese de que as crianças são capazes de fazer haicais tão bons quanto os adultos. Com efeito, quatro dos premiados foram crianças. Uma vibração enorme percorria o auditório a cada anúncio, até a premiação do primeiro lugar, um adulto.

E assim, em clima de festa, terminou o 14o Encontro Brasileiro de Haicai, sob os acordes harmoniosos do coral e orquestra da professora Mistuca Miyashita numa apoteótica cerimônia final.

O 14o Encontro Brasileiro de Haicai foi uma realização do Centro de Produções do Instituto de Artes da Unicamp, do Grêmio Haicai Ipê e do Estúdio Guapuruvu.




Os vencedores do Grande Desafio (7 classificados)


1o lugar
Sérgio Francisco Pichorim, adulto

Flores no jardim.
Uma abelha pousa aqui
e depois se vai.


2o lugar
Eunice K. Okuma Cavenaghi, adulta

No auge da tarde,
Estão rompendo o silêncio
Zumbidos de abelha.


3o lugar
Analice Feitoza de Lima, adulta

Imenso jardim,
e sobre flores diversas
enxame de abelhas...


4o lugar
Alisson Fernando Dionísio, 14 anos

Casa abandonada.
O piá de olho na colméia
Abelhas guardiãs


5o lugar
Alessandra Bassani, 13 anos

Mamãe no jardim
colhe lírios-brancos
e leva pra sala.


6o lugar
Marilize Aparecida Pianavaro, 13 anos

No jardim
belos lírios-brancos
Alegria de mamãe


7o lugar
Daniela Rissi Campos, 13 anos

no alto da árvore
se ouve zum-zum
é a abelha a voar




"Hors Concours" (3 classificados em ordem alfabética)


Carol Ribeiro

Criador de abelhas
O velhinho japonês
Tem sorriso doce


Celso Pestana

Um lírio branco --
A primeira comunhão
De um menino tímido.


Teruko Oda

Muro de parquinho --
Pequena abelha descansa
sobre a flor pintada.



Júri do Grande Desafio

  • Celso Pestana

  • Clóvis Moreira Santos

  • Douglas Eden Brotto

  • Edson Kenji Iura

  • Hazel de S.Francisco

  • Paulo Franchetti

Júri da categoria hors-concours

  • Dorotea Iantas Miskalo

  • Lúcia Helena Nascimento

  • Neide Rocha Portugal


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