Caqui: revista brasileira de haicai

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Estante

Este espaço tem por objetivo divulgar a produção haicaísta em língua portuguesa. Se você é autor, veja como expor seu trabalho aqui, gratuitamente.

7a Antologia

Grêmio de Haicai Caminho das Águas

Antologia de haicais (17 autores, 208 haicais). Inclui a seção "Contemplação da Lua", com haicais sobre o tema. Contém o ensaio "A Mestre Goga", de Sônia Adarias Soares Bruno. Apresentações de Edson Kenji Iura e Regina Alonso (Contemplação da Lua). Edição dos autores, Santos, 2008. 54 páginas, 13cm x 19cm. Contato: npavesi@uol.com.br

Texto adaptado da Apresentação: Esta antologia traz haicais escritos pelos membros do Grêmio de Haicai Caminho das Águas, associação de poetas da cidade de Santos. Haicai é um poema de três versos, sem rima ou título, com uma estrutura rítmica de aproximadamente 5-7-5 sílabas métricas. Em sua modalidade dita "tradicional", exige a presença de uma palavra ou expressão que remeta à estação climática da época em que se escreve. Tal palavra ou expressão é denominada "kigo". Esta antologia é a sétima de uma série editada com regularidade pelo grupo santista, fato que, tomado isoladamente, já é digno de nota. O Grêmio de Haicai Caminho das Águas foi fundado em 1995, como resultado de um projeto de atividades ligadas à cultura japonesa patrocinado pelo SESC de Santos. Contando inicialmente com a dedicada orientação da professora Teruka Oda, do Grêmio Haicai Ipê de São Paulo, hoje o grêmio santista caminha com passos independentes, afirmando-se como um dos principais pólos de estudo, prática e difusão do haicai em português no Brasil.

Amostras:

Ninguém nesta praça...
Só o vento derrubando
As flores de manga.
Mahelen Madureira

Dia do Imigrante--
Ainda soam tambores
No peito da gente.
Neiva Pavesi

Estrada de terra--
O caminhante e seu cão
Ao clarão da lua.
Regina Alonso

Madrugada de novo.
E de sono nem sinal--
Só a tosse do vizinho.
Sônia Adarias

Oeste

Paulo Franchetti

Coletânea bilíngüe (português e japonês) de haicais (119 haicais originalmente em português). Tradução para o japonês por H. Masuda Goga. Introdução do autor. Notas bio-bibliográficas. Ateliê Editorial, Cotia, 2008. 160 páginas, 14cm x 21cm. ISBN 978-85-7480-389-0.

Trecho da Introdução: A pergunta sobre o que é haicai me conduz sempre, já que o haicai não é um tipo de poema congenial à nossa tradição, a esta outra: o que significa fazer haicai em português? Ou seja: o que se busca incorporar à nossa tradição, por meio do haicai? Seria a mera forma diminuta, o poema de um só terceto, que funciona como uma espécie de equivalente exótico da quadra popular? Ou seria a utilização mais ou menos ritual de uma palavra típica de determinada estação do ano, à maneira japonesa? Em qualquer desses casos, o ganho parece pequeno, face ao risco do exotismo fácil e da estilização vazia. Reclamar a herança do haicai só faz sentido, para mim, se isso significar uma tentativa de obter algo radicalmente novo. E a novidade que o haicai oferece a um ocidental, de meu ponto de vista, é o fato de ele ter por objetivo não a beleza da imagem ou da combinação dos sons, mas o registro ou o despertar de uma percepção muito ampla ou intensa nascida de uma sensação. Esse me parece o núcleo da forma do haicai. E é o que julgo que vale a pena tentar incorporar, por meio da leitura dos clássicos japoneses. Por isso mesmo, não me parece correto dizer que o haicai é síntese. É antes uma recusa a dizer longamente, ou a dizer com muitas palavras. E também uma recusa a condensar o máximo no mínimo (como o faz, por exemplo, uma fórmula algébrica). O haicai diz muito, mas o faz por meio do vazio que fica entre os dois elementos justapostos ou entre o que é dito concretamente e o que poderia ser dito, o que fica apenas como pano de fundo ou silêncio voluntário.

Amostras:

O chofer do táxi --
Meu pai também, nos dias quentes,
Assobiava assim.

Manhã de frio.
Se fosse menino escrevia
Meu nome no vidro.

O sol se põe
Sobre o riozinho sujo --
Ah, infância!

Do fundo do vale
Coberto de névoa,
O latido de um cão.

Verdade-Metafísica-Poesia

R.S.Kahlmeyer-Mertens

Ensaio filosófico baseado nos haicais de Luís Antônio Pimentel. Prefácio do mesmo. Nota bio-bibliográfica. Inclui entrevista com Luís Antônio Pimentel. Nitpress, Niterói, 2007. 80 páginas, 14cm x 21cm. Contato: kahlmeyermertens@gmail.com. ISBN 978-85-99268-65-0.

Trechos: "O ensaio em nosso livro tem por objetivo especular sobre a relação entre os pensamentos ocidental e oriental, a partir das noções de verdade, metafísica e poesia. Toma por ponto de partida a poesia haicai. Cumprindo a tarefa de uma problematização desses elementos e visando a contribuir para o preenchimento da lacuna existente entre os modos de pensar acima mencionados. Da mesma maneira, retoma o haicai como tema digno de consideração da Filosofia. (...) O ensaio conta com três tópicos, cada qual reservado aos conceitos anunciados no título. Ao final, convencemo-nos de que o haicai é terreno fértil ao pensar, para além das suas circunstâncias geográfico-culturais (...). Tomado como poesia, o haicai é capaz de nos trazer um estranhamento. Afinal, a que vem uma poesia que não emprega os artifícios da poesia? O que pretende uma poesia que não se vale da maneira literária de exprimir com processos e expedientes estranhos à função de comunicação? O haicai parece querer expressar um instante, retratar um dado fenômeno nesse. Daí, vento, vale, névoa e aurora não mais se mostram como antes, mas aparecem pela verve da poesia. (...) Nossas afirmações encontrariam, sem muita dificuldade, respaldo nas idéias da poética clássica. Elas dizem algo muito próximo a Aristóteles quando esse assevera que a arte imita a realidade-verdade, e continuaria a ter aderência aos gregos se fosse reformulada indicando também a poesia como uma imitação da realidade-verdade. Contudo, poderíamos pensar isso em se tratando dos nipônicos? Cabem essas afirmações no pensamento oriental representado pelo haicai?"

Gota de Orvalho

Benedita Azevedo

Coletânea de haicais (79 haicais). Apresentação de Celso Pestana. Nota bio-bibliográfica. Inclui o artigo "Grêmio Haicai: instrumento de difusão", de José Marins. Araucária Cultural, Curitiba, 2007. 108 páginas, 15cm x 10cm. Contato: bsazevedo@uol.com.br.

Trecho da Apresentação: "A confreira Benedita é uma mulher de fibra, sorriso largo e muita energia. Essa maranhense radicada em Magé/RJ, participa dos encontros mensais do Grêmio Ipê, fundou o Grêmio Sabiá, trabalha o haicai com crianças em escolas, publicou, além das suas autobiografias, três livros com os seus próprios poemas. Esperta, sabia que ainda lhe faltava um importante item no currículo de haicaísta brasileira. Este ano, o tempo ajudou -- e se não ajudasse não a demoveria novamente de travar os primeiros contatos com a arte do verso encadeado, e participar de uma tertúlia n'A Juriti. E lá estava ela. Numa ocasião dessas, enquanto alguém quebra a cabeça para achar a sua estrofe, os outros se entregam a 'importantes elucubrações', Benedita, no entanto, ao mesmo tempo que participava da conversa descontraída, mantinha a atenção no desenrolar do encadeamento, como quem está matutando alguma coisa. Fizemos a viagem de volta juntos, eu, ela e Iraí. Seis horas depois descíamos do ônibus na rodoviária do Rio, cansados. Benedita ainda achou disposição para armar mais um projeto: -- E vamos organizar um renga aqui no Rio, hein? Quem sabe no Amarelinho".

Amostras:

Dentro do balaio
Enroscados uns nos outros
Filhotes de gato

Chegada do inverno --
Os casacos pendurados
arejam ao sol.

Dia escaldante --
Menina com picolés
um em cada mão.

Agosto ao final.
Gramado volta a crescer
pelas laterais.

Haicais Ilustrados

Paulo Roberto Cechetti (organizador)

Coletânea de haicais (21 haicais, sete autores), acompanhados de ilustrações em preto-e-branco. Prefácios de Luiz Augusto Erthal e P.R. Cecchetti. Inclui bio-bibliografias. Nitpress, Niterói, 2007. 48 páginas, 14cm x 15,5cm. ISBN 978-85-99268-80-3.

Da introdução: "Foi, em plena guerra mundial, um presente que, sem saber, o imperador Hiroíto ofertou à então capital fluminense, enviando-nos de volta Luís Antonio Pimentel e, com ele, o cânone do haicai para o Brasil. Certamente uma retribuição magnânima pelos cinco anos em que lhe cedemos o grato convívio deste multifacetado escritor e jornalista, que lá deixou o primeiro livro de um poeta brasileiro traduzido para o japonês. Como um bom mestre, cuja sabedoria e nobreza são perseguidas por gerações de seguidores, Pimentel também fez discípulos que reproduzem perfeitamente a técnica do haicai, vários deles presentes neste livro organizado em oportuno momento por Paulo Roberto Cecchetti, ele próprio um dos seus mais fiéis escudeiros. Aqui a poesia ganhou, ainda, a companhia de alguns de nossos ilustradores mais talentosos, também guiados por um outro mestre da estatura de Miguel Coelho. Coube a Cecchetti harmonizar os haicais com esses traços igualmente delicados, como um chef que prepara o prato adequado para acompanhar o seu melhor vinho".

Amostras:

Alta madrugada -
no chão, a copa da árvore
rendilha o luar...
Douglas Eden Brotto

Lâmpadas no hall
atraem bichos de luz:
balé de tietes.
Paulo Roberto Cecchetti

Predador perene,
pula o sapo-pipa e parte
o espelho do poço.
Luís Antônio Pimentel

Mesmo assim tão frágeis,
sonham grandes travessias
os pequenos barcos.
Wanderlino Teixeira Leite Netto

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Atualização em 14 de setembro de 2008

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