Cesto de Caquis recebe o Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2022
O texto abaixo é o parecer da comissão julgadora do Prêmio Mário de Andrade, correspondente à categoria Ensaio Literário do Prêmio Literário Biblioteca Nacional no ano de 2022. A comissão foi formada por Alexandre Sugamosto, Kelvin Falcão Klein e Rodrigo S. Duarte Garcia. A premiação foi homologada pela Portaria FBN 66 de 3 de novembro de 2022.
Cesto de Caquis: notas sobre haicai
Edson Iura
1º lugar
O livro vencedor do Prêmio Literário Biblioteca Nacional na categoria Ensaio Literário, “Cesto de Caquis: notas sobre haicai”, de autoria de Edson Iura, apresenta uma criativa investigação sobre a forma poética japonesa e sua difusão na literatura brasileira. Trata-se de uma importante contribuição para o panorama nacional, no que diz respeito à cultura e à literatura, e é com satisfação que o júri concede a honraria. O livro, dividido em seis partes independentes, mas em constante diálogo, é escrito em um estilo claro e acessível, com um tratamento coerente das ideias e dos argumentos. Ao longo de todo o ensaio, fica claro que seu autor mantém o esforço de expansão crítica do tema, aliando rigor filológico e paixão intelectual na elaboração de suas notas sobre o haicai.
Tratando de temas como as relações entre intertextualidade e arquétipo, entre mundanismo e transcendência e entre tradição e modernidade, “Cesto de Caquis” posiciona o haicai dentro de uma discussão crítica que é, ao mesmo tempo, específica e rica em ramificações. Essa dupla inscrição é um dos pontos positivos do livro, um registro que se mantém e se intensifica na preocupação que seu autor tem de articular a cena de origem japonesa com a cena de chegada brasileira, mostrando as inter-relações entre os dois contextos. O exercício de aproximação crítica dos dois contextos é realizado com maestria em “Cesto de Caquis” muito por conta de sua preocupação permanente com o texto e a tradução: o autor apresenta exemplos, pesa possibilidades e alternativas, levando o leitor ao longo de um processo de descoberta e aprendizado.
É preciso destacar que a contribuição para a cultura nacional de um livro como “Cesto de Caquis” está no movimento de mostrar que a literatura brasileira é feita de camadas heterogêneas e de presenças múltiplas. Não se trata, portanto, de uma defesa dos panoramas sintetizadores pautados pela cronologia fixa ou pelos discursos de sedimentação comunitária compulsória. A singularização do haicai como elemento de análise ensaística detida é, em paralelo, a decisão que torna possível a própria singularidade do livro vencedor em questão, que se destacou dentro do conjunto de obras em análise. Por fim, cabe indicar como traço distintivo da obra a inventividade com que lida com seu tema de eleição, informando de forma clara a respeito da natureza do haicai ao mesmo tempo em que reinventa a natureza de seu objeto, potencializando, através dos mecanismos do gênero ensaístico, a fruição da leitura.
Alexandre Sugamosto
Kelvin Falcão Klein
Rodrigo S. Duarte Garcia