
Relato da Contemplação da Lua 2025, reunião de poetas para contemplar a lua cheia de outono e compor haicais sobre a ocasião, realizada durante a noite de 11 de abril de 2025, no Espaço Cultural Soto-Zenshu — Templo Busshinji, em São Paulo.
O QUE FOI
Durante o outono, quando a lua cheia surge de forma esplêndida, os japoneses costumam admirá-la e aproveitam para compor poemetos conhecidos por haicai ou haiku, acompanhados de comida e bebida. Esta reunião tem o nome japonês de tsukimi, que significa “contemplação da lua”.
Para os poetas de haicai, a estação do outono tem um significado profundo, de grande introspecção. A lua de outono é um dos temas preferidos deste exercício poético.
Simbolicamente, nesta estação, a lua se mostra mais próxima aos olhos do poeta e, portanto, imensamente grande. Veja como foi em 2024, 2023, 2019, 2018, 2017, 2016, 2015, 2014, 2013, 2012, 2011, 2010, 2009, 2008, 2007, 2006, 2005, 2004, 2003, 2002, 2001, 2000 e 1999.
COMO FOI
Numa noite do outono de 2025, quatro poetas se reuniram no templo zen-budista Busshinji, situado no centro de São Paulo, para escrever haicais dedicados à lua. É a 23ª reunião do grupo, tendo a primeira delas ocorrido há 26 anos, com sua frequência interrompida unicamente durante os anos da pandemia.
Mostramos alguns dos haicais dessa produção.
Lua dos poetas —
De novo nos encontramos
Mais envelhecidos.
Danita Cotrim
Lua de outono.
Tantos, tantos a ignoram
neste trem lotado.
Danita Cotrim
A luz filtrada
Por entre as árvores altas.
Lua desta noite.
Danita Cotrim
Nuvens tão velozes
Num jogo de esconde-esconde
Lua desta noite.
Danita Cotrim
Nuvem paulistana
Flutua com mais pressa
Lua de abril.
Davi Bote
À lua cheia
Uiva de saudade
Um cão sozinho.
Davi Bote
Amigos focados
Saúdam a bela lua
É tsukimi.
Davi Bote
Nuvens em fila
Passam encerando
A grande lua.
Davi Bote
E pensar que quase
cancelamos esta noite —
A lua no céu.
Edson Iura
Como não notar?
Sobre as pessoas alheias
Lua desta noite.
Edson Iura
A grua dormente
sobre o prédio em construção
quase toca a lua.
Edson Iura
No suzurantô
uma lanterna quebrada.
Lua desta noite.
Edson Iura
Sorrateira chega
deixando um rastro de luz
a roda da lua.
Francisco Handa
Se mantém parada
a lua num fundo escuro.
Luzes das janelas.
Francisco Handa
A lua navega
soprada para a direita
em noite sem vento.
Francisco Handa
Ao olhar a lua
por momento nada penso.
Uma eternidade.
Francisco Handa
Sua danadinha!
Foge como uma raposa
a lua de outono.
Jigen Oliver
Só especialistas
se reúnem para o estudo.
Lua renomada.
Jigen Oliver
Cabeça de Buda
que nasce todas as noites.
Ah! Lua das flores.
Jigen Oliver
Velha e meio torta
olha quem apareceu!
A lua de outono.
Jigen Oliver
REALIZAÇÃO
Espaço Cultural Soto-Zenshu (Templo Busshinji). Apoio Cultural: KakiNet