Erupção da palavra

De Magma à Lava — Releitura da Poesia de João Guimarães Rosa — Haicais
Carlos Martins

Coletânea de Haicais (63 haicais). Prefácios do autor e de Carlos Viegas. Inclui nota bio-bibliográfica. Porto Alegre, Bestiário, 2025, 84 páginas, 12cm x 18cm. ISBN 978-65-6056-129-8. Contato: www.bestiario.com.br.

Do prefácio: “Magma é um altar em que cada um reza à sua maneira. Uns leem os poemas e vibram ou choram, contemplando a vida nos remansos do rio e em torno deles; outros querem mesmo é pescar no caudaloso, transcriando, se inspirando. Intertextualização — ou “honkadori” na poesia japonesa — é uma maneira de expressar a admiração por um texto que nos precede. Nessa técnica utiliza-se uma palavra, uma frase, um verso ou mesmo dois — no caso do haicai –, para ser a base de um novo poema, dando-lhe nova perspectiva, segundo a vivência do autor, que o toma por base. Tal base pode ser também o cenário, a ideia ou contexto que o texto-paradigma expressa e no qual se insere. Há um movimento do homenageado em direção à homenagem, assim como na natureza, o do magma, a rocha fundida no interior da Terra, à lava, o magma que chega à superfície, por meio geralmente das erupções vulcânicas. Neste tributo, cada um dos poemas de Rosa foi transcriado nos três versos de 5-7-5 sílabas poéticas do haicai, seja no estilo tradicional, com a utilização do kigo (termo ou expressão de estação), ou não, de maneira aberta, livre, sem o kigo. O título do poema original foi mantido, embora no haicai não convenha a sua utilização, apenas para estabelecer a conexão entre os dois poemas.”

Amostras:

Caranguejo
Não tocar tambor
para maluco dançar
Recuar, de lado

Iniciação
Lua sem rosto
O pavoroso das formas
não de todo feitas

A aranha
Fieiras de orvalho
Nos gomos da teia baldia
por remendar

Revolta
Não passarão!
Minha pátria é a memória
de uma terra utópica

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