Plumagem do Vento
Paulo Sérgio Vieira
Coletânea de haicais (60 haicais). Apresentação de Fransued do Valle. Inclui nota bio-bibliográfica. João Pessoa, Ed. UFPB, 2019, 80p., 16cm x 22cm. ISBN 978-85-237-1470-3. Contato: paulusergiov@gmail.com.
Da apresentação: “Movida pelo vento, a palavra soprada aporta no branco da página com a leveza e a força do veículo que é — simultaneamente — transporte, passageiro e destino. Hokku, haiku, haikai, tripé apoiado no solo da prescrição, do dedo apontado para a lua, indicação de caminho, placa na estrada, sinal, signo. Três linhas e um destino: cooptar a cumplicidade e a participação do leitor, que completa o sentido do que é apontado. Esse aliciamento pode nos dar a lua contemplada, a lua íntima, satori, viagem. A maturação da palavra direta, substantiva, quase sem ornamentos, a não ser a música da fricção entre os vocábulos, o espaço necessário para a respiração do sentido; eis o que esse vento nos traz, e aonde nos leva, o olho aberto pelo sopro do haikai, as janelas escancaradas, nas quais testemunhamos o desenrolar de paisagens tornadas interiores pela indicação dos três versos ou, mais precisamente, por meio do silêncio
entre as palavras, pausa para a fruição do real. Paulo Sérgio Vieira, poeta maduro, econômico, minimalista, como nas obras anteriores, Cílios de Deus e Diálogo das Horas, reitera, nesta Plumagem do Vento, o que ousamos chamar de um ato de fé nas coisas miúdas. Amigo do que flana ao rés do chão, tem afinado seus instrumentos, ao longo de sua trajetória poética, podando os galhos do excessivo com a fidelidade de quem muito diz falando o mínimo, com a serenidade de pastor dos ventos, tendo esperado, pacientemente, a maturação dos frutos que agora nos oferece para degustação.”
Amostras:
fim de festa.
no afrouxar de gravatas
voam borboletas
lua empoçada.
bocas de lobo uivando
alta madrugada
solo de mansinho.
poema ensaiando canto
de passarinho
na íris a chama
da vela tremula.
a vida se acalma