Cata-vento de Haicais
Clara Sznifer
Coletânea de haicais (112 haicais). Prefácio de Carlos Martins. Santos, Edição de autor, [2022], 30 páginas, 10cm x 20cm. Contato: clsznifer@gmail.com.
Do prefácio: “O haicai é um poema que está intimamente ligado à natureza, sendo seu poeta um observador da ocorrência dos fenômenos naturais ao mesmo tempo que vê o próprio homem como ator nesse cenário: em outras palavras, o homem faz parte da natureza, não está apartado dela. Sendo assim, é natural que o haijin caminhe literal e simbolicamente, na captura do que eternizará em seus versos. Haijin, poeticamente, poderia ser sinônimo de viajante. Uma viajante como nossa caríssima Clara Sznifer, que tomarei a liberdade de chamá-la de Clarinha, tal qual o fazem seus muitos amigos. E viajar para realizar o haicai, não significa que devemos ir para muito longe, em distantes paragens, podendo ser o quarteirão de casa o percurso e destino. É preciso ter tão-somente a atitude de viajante, de flâneur que põe as pernas para funcionar e os sentidos para captar, como antenas, a vida que se apresenta a ele: a brisa que sopra no rosto; o sol quente que pousa nos braços; a lua cheia imensa no alto do céu ou o som das folhas pisadas no caminhar sobre a relva. Clarinha não perde oportunidade de ganhar o mundo a partir de sua amada Santos, se deslocando a lugares próximos ou mesmo ao estrangeiro, sempre se valendo de seus olhos brilhantes de uma eterna menina que a tudo que é novo e original quer registrar. Nos quatro cantos do País, seja na Serra do Mar, em cidades termais, na Amazônia ou na velha Europa.”
Amostras:
Lagoa de Abaeté
água escura e areia branca —
Sol de Primavera
Presença indesejada
no passeio de chalana —
Quantos mosquitos!
Pinheiros na colina
protegem cidade sagrada
de Jerusalém
Perto do caramanchão
poucos olham as flores —
Foco nas taturanas