Colaboração de Benedita Azevedo
Ainda não foi desta vez nosso Tsukimi presencial. Como a pandemia continua, fizemos apenas virtualmente, tal como em 2020.
O que é Tsukimi?
Durante o outono, quando a lua cheia surge de forma esplêndida, os japoneses costumam admirá-la e aproveitam para compor poemetos conhecidos por haicai ou haiku, acompanhados de comida e bebida.
Para os poetas de haicai, a estação do outono tem um significado profundo, de grande introspecção. A lua de outono é um dos temas preferidos deste exercício poético. Simbolicamente, nesta estação, a lua se mostra mais próxima aos olhos do poeta e, portanto, imensamente grande.
De 27 a 31 de março, os haijins observaram a lua cheia, escreveram seus haicais e postarem nas páginas de seus grêmios.
AUTORES E SEUS HAICAIS
Alan Resende
Lua de outono:
Luz que ultrapassa as nuvens
de uma tempestade
Surge atrás dos montes
na curva do Muriaé
a lua de outono
Tsukimi on-line —
Vejo o reflexo da lua
No copo de vinho
Lua desta noite…
Todo mundo está em casa
de luzes acesas
Alvaro Posselt
Ruas desertas —
O guarda noturno vigia
a lua cheia
Roupa no varal —
O brilho da lua se estende
entre os grampos
Teto de vidro —
Entre meus travesseiros
também dorme a lua
No dia da vacina
minha mãezinha também
recebe a lua
Benedita Azevedo
O prédio novinho
não me deixa ver nada —
nem a lua cheia!
Só o clarão da lua
por cima dos prédios novos —
foi-se a esperança.
Não apareceu
primeira lua de outono —
só resta o silêncio
Lua-desta-noite —
Só vejo as luzes dos prédios
e a rua vazia.
Carlos Bueno
Contemplação da lua —
No canto da sala tremeluz
pequena vela.
Lua desta noite —
Parece ter duas asas
sobre as casas.
Rua amarelada —
A lua passa em silêncio
prata no céu.
No isolamento
a minha companhia —
A lua cheia.
Carlos Martins
Some no silêncio
o som da locomotiva
À espera da Lua
Tsukimi no templo
Evocação dos haijins,
compondo em silêncio
Com a minha sombra
e um bando de mosquitos
Contemplação da Lua
Estendo as roupas
no varal olhando o céu
Lua entre nuvens
Noite nublada
Enquanto a Lua não vem
o olhar na vizinhança
Celio Guimarães
A lua de outono —
No pandêmico vinte e um
Só a vi na mente.
Lua… Lua cheia —
Dança na poça da praça
ao sopro do vento.
Na boca da noite
a lua cheia aparece —
Um dente de prata.
Cyro Mascarenhas
Visão deslumbrante:
no alto da caixa-d’água
a lua de outono
Triste e solitário
vejo a lua-desta-noite
me vendo chorar
Um manto diáfano
envolve a lua outonal:
névoa de cor rósea
Lua-desta-noite
em meio a nuvens velozes
parece fugindo
Daniel Morine
dias de lockdown —
do outro lado da calçada
para ver a lua.
comunicação a distância
em confinamento —
no céu a mesma lua
máscara no rosto —
as nuvens encobrem
a lua cheia de outono
os gatos no quintal
estranham minha companhia —
lua desta noite
Elisa Campos
Ah, lua cheia…
a caminho do templo
turistas zazens
Lua enevoada —
desce a rua aos tropeços
um andarilho
ainda verdes
as mangas parecem maduras
reflexos do luar
fim de tarde —
ao lado do morro se vê
uma lua branca
Franklin Magalhães
A linda lua cheia
atrás das nuvens de chuva —
brilho, só dos raios.
Bela lua de outono —
brilhou pra nós um instante,
logo se cobriu.
Lua, bela lua cheia!
Contraste de sua beleza
com a pandemia.
Contemplar a lua,
quiçá só ano que vem.
Pranto pelos mortos.
Jô Marcondes
Escrevo haicai
apenas no pensamento
Lua dos poetas
Entre velhos papéis
Sob o desenho da lua
declaração de amor
Céu de lua cheia
Até o velho caminho
fica mais bonito
Plena madrugada
somente eu a contemplar…
Lua de outono.
Madô Martins
sem piscar, um olho
me segue por toda casa —
lua desta noite
Marco Aurélio Goulart
A insônia chega…
No entanto por companhia
Lua-desta-noite
Silêncio da noite —
O clarão da Lua cai
aqui no quintal
Após o chuvisco,
surge em meio à escuridão —
Lua de outono
Eis que a mente evoca
as lembranças de Catulo…
Noite de luar
Matusalém Dia de Moura
À espera do sono…
Pela janela do quarto
a lua entre nuvens.
Céu de muitas nuvens —
A lua cheia aparece
e, logo, se esconde.
De regresso à casa —
Entre uma montanha e outra
vai subindo a lua.
O céu sobre a serra
hoje sem nenhuma nuvem —
Apenas a lua.
Natália Yamane
Lua de outono —
Para por um minuto
na faixa de pedestre
Nélida Nunes Cardoso
Lua de outono
Reluzindo pelas frestas
Frias e desnudas
Surge a lua cheia
No deslumbrante céu
De luz outonal
Lá… No firmamento
Alva como uma pérola
A lua de outono
No explendor do céu
A lua cheia outonal
Bordada de azul
Raymundo Luiz Lopes
O menino aponta
pra bola de luz no céu
reina a lua outonal
Desapontamento
não se vê nem o clarão
a lua atrás das nuvens
Lua silenciosa
um reflexo na lagoa
apenas lembranças
Esqueci a pandemia
naquele instante encantado
belo Tsukimi
Regina Alonso
Lua de outono —
Abre a cortina de névoa
e a noite brilha
De olho no céu…
Peço a brancura da paz
ao surgir a lua
Coreografia —
Junto às nuvens esgarçadas
a dança da lua
Um fio dourado
destaca tua brancura —
Lua de outono
Olhar prisioneiro
pela fresta da vidraça —
Lua dos poetas
Regina Coeli Nunes
A lua cheia!
Na confluência da luz,
o foco seduzindo.
No céu aberto
a lua cheia flutuada,
levanta a luz.
A lua cheia
com a face deflagrada,
o luar se lança.
Na lua cheia
a luz regendo as horas
do ciclo lunar.
Rosane Silva
O sol se põe
Surge plena e soberana
Lua cheia
Lua-desta-noite
Passa o guarda noturno
devagarinho
Clarão na noite
atravessando o quarto
Lua espelhada
Sem máscara
com brilho escancarado
Lua de outono
Rose Mendes
acima do morro
surge a lua-desta-noite:
o céu fica lindo
ei, venha ver
venha… veja novamente
a lua de outono
contentamento —
o brilho da lua cheia
em nosso olhar
lua da ilha —
o som do meu coração
bate saudoso
Rosane Silva
O sol se põe
Surge plena e soberana
Lua cheia
Lua-desta-noite
Passa o guarda noturno
devagarinho
Clarão na noite
atravessando o quarto
Lua espelhada
Sem máscara
com brilho escancarado
Lua de outono
Sandra Hiraga
Lua solitária
devolva a esperança
de voltar a viver.
Emerge das sombras
o luar dos poetas —
E os enamorados?
Brisa gelada
arrepia os braços nus —
Contemplo a lua.
Severino José
deu meia noite
mas até parece dia
lua de outono
lua desta noite
fez do céu de outono
a sua sesmaria
entra na vereda
e deita no olho d’água
ah!, lua outonal
Taís Curi
Fim da solidão —
Sobre o banco do jardim
senta a lua cheia
Lua desta noite —
Debruçado na janela,
um poeta mudo
Liberta das nuvens
revela-se intensamente-
Lua-desta-noite
Quase amanhecer —
Ancorada no arvoredo
a lua adormece
Valdir Peyceré
Lua cheia —
Surge detrás da serra
como um holofote!
Me salvou esta lua,
da conversa do taxista,
sobre economia.
Lua de outono —
luminosa como sempre
veio nos visitar