Contemplação da Lua 2021 dos Grêmios de Haicai Águas de Março e Sabiá

Colaboração de Benedita Azevedo

Ainda não foi desta vez nosso Tsukimi presencial. Como a pandemia continua, fizemos apenas virtualmente, tal como em 2020.

O que é Tsukimi?

Durante o outono, quando a lua cheia surge de forma esplêndida, os japoneses costumam admirá-la e aproveitam para compor poemetos conhecidos por haicai ou haiku, acompanhados de comida e bebida.

Para os poetas de haicai, a estação do outono tem um significado profundo, de grande introspecção. A lua de outono é um dos temas preferidos deste exercício poético. Simbolicamente, nesta estação, a lua se mostra mais próxima aos olhos do poeta e, portanto, imensamente grande.

De 27 a 31 de março, os haijins observaram a lua cheia, escreveram seus haicais e postarem nas páginas de seus grêmios.

AUTORES E SEUS HAICAIS

Alan Resende

Lua de outono:
Luz que ultrapassa as nuvens
de uma tempestade

Surge atrás dos montes
na curva do Muriaé
a lua de outono

Tsukimi on-line —
Vejo o reflexo da lua
No copo de vinho

Lua desta noite…
Todo mundo está em casa
de luzes acesas

Alvaro Posselt

Ruas desertas —
O guarda noturno vigia
a lua cheia

Roupa no varal —
O brilho da lua se estende
entre os grampos

Teto de vidro —
Entre meus travesseiros
também dorme a lua

No dia da vacina
minha mãezinha também
recebe a lua

Benedita Azevedo

O prédio novinho
não me deixa ver nada —
nem a lua cheia!

Só o clarão da lua
por cima dos prédios novos —
foi-se a esperança.

Não apareceu
primeira lua de outono —
só resta o silêncio

Lua-desta-noite —
Só vejo as luzes dos prédios
e a rua vazia.

Carlos Bueno

Contemplação da lua —
No canto da sala tremeluz
pequena vela.

Lua desta noite —
Parece ter duas asas
sobre as casas.

Rua amarelada —
A lua passa em silêncio
prata no céu.

No isolamento
a minha companhia —
A lua cheia.

Carlos Martins

Some no silêncio
o som da locomotiva
À espera da Lua

Tsukimi no templo
Evocação dos haijins,
compondo em silêncio

Com a minha sombra
e um bando de mosquitos
Contemplação da Lua

Estendo as roupas
no varal olhando o céu
Lua entre nuvens

Noite nublada
Enquanto a Lua não vem
o olhar na vizinhança

Celio Guimarães

A lua de outono —
No pandêmico vinte e um
Só a vi na mente.

Lua… Lua cheia —
Dança na poça da praça
ao sopro do vento.

Na boca da noite
a lua cheia aparece —
Um dente de prata.

Cyro Mascarenhas

Visão deslumbrante:
no alto da caixa-d’água
a lua de outono

Triste e solitário
vejo a lua-desta-noite
me vendo chorar

Um manto diáfano
envolve a lua outonal:
névoa de cor rósea

Lua-desta-noite
em meio a nuvens velozes
parece fugindo

Daniel Morine

dias de lockdown —
do outro lado da calçada
para ver a lua.

comunicação a distância
em confinamento —
no céu a mesma lua

máscara no rosto —
as nuvens encobrem
a lua cheia de outono

os gatos no quintal
estranham minha companhia —
lua desta noite

Elisa Campos

Ah, lua cheia…
a caminho do templo
turistas zazens

Lua enevoada —
desce a rua aos tropeços
um andarilho

ainda verdes
as mangas parecem maduras
reflexos do luar

fim de tarde —
ao lado do morro se vê
uma lua branca

Franklin Magalhães

A linda lua cheia
atrás das nuvens de chuva —
brilho, só dos raios.

Bela lua de outono —
brilhou pra nós um instante,
logo se cobriu.

Lua, bela lua cheia!
Contraste de sua beleza
com a pandemia.

Contemplar a lua,
quiçá só ano que vem.
Pranto pelos mortos.

Jô Marcondes

Escrevo haicai
apenas no pensamento
Lua dos poetas

Entre velhos papéis
Sob o desenho da lua
declaração de amor

Céu de lua cheia
Até o velho caminho
fica mais bonito

Plena madrugada
somente eu a contemplar…
Lua de outono.

Madô Martins

sem piscar, um olho
me segue por toda casa —
lua desta noite

Marco Aurélio Goulart

A insônia chega…
No entanto por companhia
Lua-desta-noite

Silêncio da noite —
O clarão da Lua cai
aqui no quintal

Após o chuvisco,
surge em meio à escuridão —
Lua de outono

Eis que a mente evoca
as lembranças de Catulo…
Noite de luar

Matusalém Dia de Moura

À espera do sono…
Pela janela do quarto
a lua entre nuvens.

Céu de muitas nuvens —
A lua cheia aparece
e, logo, se esconde.

De regresso à casa —
Entre uma montanha e outra
vai subindo a lua.

O céu sobre a serra
hoje sem nenhuma nuvem —
Apenas a lua.

Natália Yamane

Lua de outono —
Para por um minuto
na faixa de pedestre

Nélida Nunes Cardoso

Lua de outono
Reluzindo pelas frestas
Frias e desnudas

Surge a lua cheia
No deslumbrante céu
De luz outonal

Lá… No firmamento
Alva como uma pérola
A lua de outono

No explendor do céu
A lua cheia outonal
Bordada de azul

Raymundo Luiz Lopes

O menino aponta
pra bola de luz no céu
reina a lua outonal

Desapontamento
não se vê nem o clarão
a lua atrás das nuvens

Lua silenciosa
um reflexo na lagoa
apenas lembranças

Esqueci a pandemia
naquele instante encantado
belo Tsukimi

Regina Alonso

Lua de outono —
Abre a cortina de névoa
e a noite brilha

De olho no céu…
Peço a brancura da paz
ao surgir a lua

Coreografia —
Junto às nuvens esgarçadas
a dança da lua

Um fio dourado
destaca tua brancura —
Lua de outono

Olhar prisioneiro
pela fresta da vidraça —
Lua dos poetas

Regina Coeli Nunes

A lua cheia!
Na confluência da luz,
o foco seduzindo.

No céu aberto
a lua cheia flutuada,
levanta a luz.

A lua cheia
com a face deflagrada,
o luar se lança.

Na lua cheia
a luz regendo as horas
do ciclo lunar.

Rosane Silva

O sol se põe
Surge plena e soberana
Lua cheia

Lua-desta-noite
Passa o guarda noturno
devagarinho

Clarão na noite
atravessando o quarto
Lua espelhada

Sem máscara
com brilho escancarado
Lua de outono

Rose Mendes

acima do morro
surge a lua-desta-noite:
o céu fica lindo

ei, venha ver
venha… veja novamente
a lua de outono

contentamento —
o brilho da lua cheia
em nosso olhar

lua da ilha —
o som do meu coração
bate saudoso

Rosane Silva

O sol se põe
Surge plena e soberana
Lua cheia

Lua-desta-noite
Passa o guarda noturno
devagarinho

Clarão na noite
atravessando o quarto
Lua espelhada

Sem máscara
com brilho escancarado
Lua de outono

Sandra Hiraga

Lua solitária
devolva a esperança
de voltar a viver.

Emerge das sombras
o luar dos poetas —
E os enamorados?

Brisa gelada
arrepia os braços nus —
Contemplo a lua.

Severino José

deu meia noite
mas até parece dia
lua de outono

lua desta noite
fez do céu de outono
a sua sesmaria

entra na vereda
e deita no olho d’água
ah!, lua outonal

Taís Curi

Fim da solidão —
Sobre o banco do jardim
senta a lua cheia

Lua desta noite —
Debruçado na janela,
um poeta mudo

Liberta das nuvens
revela-se intensamente-
Lua-desta-noite

Quase amanhecer —
Ancorada no arvoredo
a lua adormece

Valdir Peyceré

Lua cheia —
Surge detrás da serra
como um holofote!

Me salvou esta lua,
da conversa do taxista,
sobre economia.

Lua de outono —
luminosa como sempre
veio nos visitar