Kokoro — um céu de dentro
Camila Jabur
Reunião de duas coletâneas de haicais (total de 62 haicais e dois tankas), “Kokoro” e “Um céu de dentro”. Prefácios da autora. Inclui nota bio-bibliográfica. São Paulo, edição da autora, 2015, 72 cartões de 17cm x 9cm, embalados em caixa de cartolina. Contato: camilajabur@gmail.com.
Do prefácio: “O haikai nasceu no coração da cultura japonesa. Os japoneses têm duas palavras para coração: shinzo, que quer dizer o órgão do corpo e kokoro, que é um outro coração. Por kokoro traduz-se também espírito, âmago, sentimento, ou tudo isso ao mesmo tempo. Octavio Paz fala de um sentir-pensar com as entranhas quando se traduz essa palavra. Que coração será esse, conectado ao instinto, sempre presente? Este órgão em aberto e no aberto? Um coração que escuta a voz dos outros seres, que escuta a natureza, parte dela, como um único tecido, uma mesma música que soa? Assim, para além do eu e seus pensamentos alinhados em torno de si. Desta palavra, kokoro, vem a expressão ‘guardar na memória’. E guardar na memória, aqui talvez seja guardar esta antiga lembrança: a de que somos parte deste mundo. Essa lembrança que, guardada sempre no coração do haikai, a cada haikai nos lembra de não esquecer”.
Amostras:
de todas as cantigas
o velho bambuzal
venta a mais antiga
a chuva já passou
e os pingos continuam
tico-tico no telhado
teus passos de outrora
no quarto vizinho
sons de agora
som do vento
na concha da mão
sussurro do mar