Caqui Documenta:
Guilherme de Almeida








ALGUNS HAICAIS












O PENSAMENTO

O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.





HORA DE TER SAUDADE

Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!)





INFÂNCIA

Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se "Agora".





CIGARRA

Diamante. Vidraça.
Arisca, áspera asa risca
o ar. E brilha. E passa.





CONSOLO

A noite chorou
a bolha em que, sobre a folha,
o sol despertou.





CHUVA DE PRIMAVERA

Vê como se atraem
nos fios os pingos frios!
E juntam-se. E caem.





NOTURNO

Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua.





OS ANDAIMES

Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.





TRISTEZA

Por que estás assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?





PESCARIA

Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.





JANEIRO

Jasmineiro em flor.
Ciranda o luar na varanda.
Cheiro de calor.





DE NOITE

Uma árvore nua
aponta o céu. Numa ponta
brota um fruto. A lua?





FRIO

Neblina? ou vidraça
que o quente alento da gente,
que olha a rua, embaça?





FESTA MÓVEL

Nós dois? - Não me lembro.
Quando era que a primavera
caía em setembro?





ROMANCE

E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.
















14 de dezembro de 1997

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Guilherme
de Almeida
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