O Haicai no Brasil H. Masuda Goga |
AS ROTAS DO HAICAI
O haiku introduzido por Afrânio
Peixoto chamou a atenção de poetas brasileiros e evoluiu
para a composição de haicai em português. Todavia,
o haiku apresentado por Afrânio não constituía a introdução
direta do haiku do Japão e sim uma retradução da versão
feita para a língua francesa.
Acresce que mais ou menos a mesma coisa aconteceu com os haicaístas posteriores, os quais adquiriram,em grande parte, seus conhecimentos sobre o haiku em fontes de língua francesa e inglesa (composições de ingleses, americanos e japoneses) ou espanhola. |
No rodapé da p. 20 da obra de Afrânio Peixoto Trovas Populares Brasileiras, lê-se: "Vide P. L. Couchoud, Sages et Poètes d'Asie, Paris, 1918", ficando assim esclarecida a sua origem francesa. |
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Waldomiro Siqueira Júnior (poeta, haicaísta) que publicou em 1933 a coletânea Haikais e em 1981 Quatrocentos e Vinte Haicais, escreve na p. XII do segundo livro: "Meu interesse pelo haicai despontou em 1926, à leitura do livro Relance da Alma Japonesa, publicado no ano anterior pelo intelectual português Wenceslau de Moraes". | Não se poderá esquecer as obras
de Wenceslau de Moraes
(1854-1929) que - tal como Lafcadio Hearn
que divulgou em inglês a cultura nipônica no mundo inteiro
- ao divulgar os japoneses e a cultura japonesa em idioma luso, promoveu
a difusão de conhecimentos sobre o haiku, em livros publicados. Como autores de obras freqüentemente citadas em estudos de haiku no Brasil figuram, entre outros, os nomes de Paul Louis Couchoud, Georges Bonneau, René Sieffert, Harold Henderson, Basil Chamberlain, Seidensticker, Donald Keene, Kenneth Yasuda, Octavio Paz, Yone Noguchi, Kuni Matsuo, Asataro Miyamori. Conforme se viu, o haiku não foi diretamente transmitido do Japão ao mundo literário brasileiro. |
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Mas, o haiku, em sua forma original, teve como introdutores
os imigrantes nipônicos. E essa introdução começou
juntamente com a chegada da primeira leva de imigrantes. Temos o registro
de que Shuhei Uetsuka (1876-1935) - encarregado de conduzir os primeiros
imigrantes pelo hoje histórico Kasato Maru, chegado
ao porto de Santos em 18 de junho de 1908 - foi um bom poeta de haiku.
Ele usava o haimei (nome literário de poeta de haiku) de
Hyôkotsu. Pode-se, pois, afirmar que o desembarque
do haiku no Brasil se deu simultaneamente com a vinda de imigrantes japoneses.
Entretanto, os homens que migravam na condição de trabalhadores contratados levavam vida apertadíssima, não tinham tempo "sequer de pensar em haiku". Era essa a realidade dos primeiros tempos dos imigrantes. Posteriormente, quando a vida do imigrante começa a apresentar alguma folga, mais precisamente em 1926, ingressa no núcleo colonial Aliança, Estado de São Paulo, Kan-ichiro Kimura, cujo nome haicaístico era Keiseki (1867-1938) e no ano seguinte Kenjiro Sato, de nome haicaístico Nenpuku (1898-1979). Eles lideraram o movimento de cultivo e de difusão do haiku tradicional, construindo os alicerces do atual "mundo haikuísta" da colônia japonesa que conta com cerca de mil aficionados. |
Um haiku de Shuhei Uetsuka (Hyôkotsu) datado de 1900 (oito anos antes de sua viagem para o Brasil): Dosshiri to Senta-se de nádega (Trad. por Masuda) Como haiku do mesmo Hyôkotsu, que consta ter sido produzido momentos antes de chegar ao porto de Santos, temos: Karetaki o A nau imigrante chegando: vê-se lá no alto a cascata seca. (Trad. por Masuda) (De Burajiru Imin no Chichi Uetsuka Shuhei - O Pai da Imigração Japonesa, Shuhei Uetsuka - de Shoichi Kodama, 1950) |
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Jorge Fonseca Júnior ouviu do escritor Zenpati Ando (1900-83), no Grêmio Cultural Brasileiro Japonês (fundado em janeiro de 1939), uma explicação sobre o haiku. Desde 1937, o autor destas linhas ofereceu informações e esclarecimentos sobre o haiku ao seu amigo Fonseca Júnior. E por volta de 1953, trocou idéias com Guilherme de Almeida (poeta, haicaísta), fornecendo-lhe informações sobre a situação do haiku no Japão daquela época. Mais recentemente, nas pp. 17-20 da revista Hototogisu (fevereiro de 1980), aparece um trabalho de Hitomi Hoshino (colaborador daquela publicação), que mantinha relações de amizade com Pedro Xisto de Carvalho (poeta, haicaísta, antigo adido cultural da embaixada do Brasil em Tóquio). Temos ainda notícia de que brasileiros interessados em haiku obtiveram esclarecimentos relativos ao mesmo através de imigrantes nipônicos. | E na década de 30 começa o intercâmbio
entre os discípulos destacados dos mestres citados e os haicaístas
brasileiros. Acrescenta-se, assim, outra rota de ingresso do haiku no Brasil:
através dos imigrantes nipônicos, paralelamente ao caminho
euroamericano, pelo qual parte dos haicaístas recebia informações
acerca do assunto. |
1 de maio de 1997 | |||
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