Todos os haicais aqui publicados foram enviados diretamente por seus autores.
Estabelecido em 1996, portanto há mais de vinte anos, o Graffiti foi o primeiro espaço da internet aberto à participação dos internautas de língua portuguesa dedicado exclusivamente ao haicai. Tanto tempo depois, é com imensa satisfação que vemos a popularidade sempre crescente desse gênero poético e a multiplicação dos espaços a ele dedicados na rede. Sendo assim, o Graffiti dá por encerrada sua missão e não mais aceitará novas contribuições. Os haicais aqui publicados permanecerão expostos por tempo indeterminado.
O peixe mergulha
do seu salto sobre a rocha:
o rio não para.
Formigas carregam
uma de suas nas costas:
são todas viúvas.
As pontas quebradas
dos lápis que te desenham
inda estão na mesa
No céu brilha a lua;
cor viva, figura altiva.
Recordação tua.
Haicai I
Borboleta branca
Pousa em minha janela
Dou-lhe cores vivas
Haicai II
De terninho preto
Lá se vai a andorinha
Viajante dos trópicos
Haicai III
Cachorro vadio
À sombra da quaresmeira
Dorme sobre flores
Haicai IV
Feira de orquídeas
Minha mãe sempre falava
Das cores do mundo
Haicai V
Chuva de granizo
Compartilho com os pássaros
A minha varanda
Pensas que o poema vai
Ele chega a dizer:"hi"
Aí cai
Dom
O único dom que tenho
É o de ser Machado
Quando estou Casmurro
As folhas vermelhas
brilham num dia de sol:
o inverno se alegra.
Venta. Folhas correm.
Fico preocupado e penso
na volta pra casa.
As flores à noite
recendem pelo caminho.
Lembro-me de ti.
Perto da fonte
sapo cururu
na beirada do ribeiro
coaxa bem baixinho
Ao luar
indo, de mansinho
'travessei o ribeirinho
coração a mil
Rotina
eis a luz radiante
sol, que cai e sempre sobe
todo dia a mesma
Momento
a nuvem passou
sol parcialmente encoberto
o céu ficou pálido
Incenso
ei, olhe a fumaça
como ela, vã, se dissipa
parece com a vida
Um dia nublado
no beiral do mar sem fim:
tudo está grisalho
Vento invernal:
canção nos galhos desnudos
traz a chuva aos olhos
Passa o dia: a noite
convidou para jantar
a Dona Saudade
ao seu voo rápido
borboletinha amarela
o mais é cenário!
zunir da cigarra...
no instante da pausa
o silêncio ecoa
flor do verão!
a tarde chovida em aves
o cheiro do mato
primeira friagem...
o jardim forrado em folhas
um pio distante
no olho da calma
o silêncio do encontro...
momento preciso
o pardal
foge do frio
no bolso do espantalho
sob o luar
até eu
sou paisagem
estrelas
caídas no pântano
procuram seu avesso
mata quase nua:
um sabiá
canta o outrora
Vem primavera
todos verão
o que espera.
mamãe passarinho chocando,
papai trouxe a comida
festa na copa das árvores
as peninhas
tão leves, flutuam
no ar
está calor
o sapo coaxa
dentro da bromélia
a Duda de capacete
uma cachorra intergaláctica
voa num foguete
Tiê-sangue vermelho
como o fogo
uma rara beleza
A terra sangra
A cana avança
Ganância que engana!
Sete copas pelado
Sob o vento gelado
Inverno nublado
A Rosa cresce
A chuva desce
Primavera floresce
O flautista tocou
A criança gostou
E o coração marcou
Sob o ipê florido
embelezam de amarelo
as flores que caem.
No final da tarde,
até o sol para e contempla
seu reflexo na água.
Hemisfério Sul
É estação do calor
no mês de janeiro.
No jardim da vida,
imagino o paraíso
de cores e flores.
Com desmatamento,
vivem os micos também
num triste lamento.
Virão,
partidos em dois
sóis brutos lutam sem mira
montam energia
Afogada,
envolta de lágrimas
leveduras bebem ar
divide o fôlego
Muda a estação
Primeiro florear de inverno
É do ipê roxo
Almoço familiar.
Mamãe serve a iguaria:
Musse de abacate.
A tarde se vai.
E com ela se despedem
O Sol e a Lua Nova.
Céu cheio de estrelas.
Manada de capivaras
Degusta o capim.
Galhos desfolhados.
Árvore seca anuncia:
O inverno chegou.
A garoa cai.
Cintilam poças na rua
à luz dos faróis.
pra Renatinha
Enquanto a chuva chora
No chão deito e pulsa o peito
Você vem agora
para Renata
No quarto quente
Muro sobre a luz: escuro
Minha mão não mente
dois olhos namoram
foi hipnotizado ao ver
sua beleza radiante
as gotas de chuva
caem lindamente
em seu cabelo dourado
meia-noite ao meio-dia
o rio amazonas
dormia saltado
manhã de inverno
pela fresta do telhado
um raio de sol
na primavera
com os galhos entrelaçados
árvores gêmeas
A meia lua esconde
por detrás dos pinheiros
sua embriaguez.
Por falta de pilha
o relógio parou
na eternidade.
É abril em mim.
O silencio quanto vale?
ouro carmesim.
A porta da casa
amarela-se com folhas
pintadas de outono.
Casa abandonada
a aranha faz sua teia
na porta de entrada
O gari folheia
o livro de poesias
Voa passarinho!
Rodopia a roupa
na máquina de lavar
chuá... Chuá... Chuá...
Sob a luz do poste
a menina de capote
lê Antón Tchekhov
Quanta solidão
nos olhos do velho
no choro do cão
Haicai
é um poema
minimalista!
A noite nublada
tudo apaga
menos teu sorriso.
A vida tacanha
dorme lá fora
enquanto a gente se banha!
Espada do samurai
corta ao meio
um hai outro cai!
Você revela
desejos mais íntimos
à luz de vela.
Água de cristal
Forma nuvens coloridas
No meu céu de sol.
Percebo que o mundo
É como poço sem fundo
Espelhando o céu.
Triste fim
Impresso no asfalto
O pássaro colorido
Teve um fim cruel.
Meus haicais de chuva
Caem fortes, sem cessar
Unem céu e terra.
Verão 2014
Chuva chora triste
Ao enterrar o calor
Mas depois sorri.
na cerca de arame
as flores brancas se enrolam
e ganham espinhos
na verde colina
bem mais que o fruto me apraz
a flor pequenina
Sol de inverno
um resto de névoa paira
sobre o rochedo
_\|/_
Vale do Ribeira
bolo a noite sem seda
folha de bananeira
cultivando ao silêncio
plantei aos prantos
meu próprios gritos.
A rua na lua
estrelam sem gravidade:
pegadas. Ex-passos.
Relógio d'água
se liquefaz o tempo
pinga instantes.
Lua de outono
Dorme o bêbado na praça
todo iluminado
A rua vazia
Ressoa na escuridão
o cri cri do grilo
Manhã de primavera
O voo do avião trepida
na poça d'água
Um galho seco
divide a lua ao meio
Crescente e minguante
Inverno frio
um medo congelante
dá arrepios
respiro o ar
sempre com alegria
e harmonia
folhas flutuam,
onda vai e onda vem
avançam o mar
vejo as flores
coloridas e lindas
brilham meus olhos
árvores grandes
formam extensas sombras
descanso em paz
um tronco oco
abriga esquilinhos
colocam nozes
sementes fortes
formam novas gerações
mais resistentes
Um toque macio,
como o beijo da menina
as águas do rio
pomba branca da paz
a flor da colina
que benigna apraz
Eu afogo as distâncias
constantes abismos
montanha ou labirintos.
Pés desprotegidos
pisam pedras
por onde eu trilho.
Chapéu do poeta
é um estribilho
livro, alfa e beta.
Pela avenida vão pessoas
e enquanto nos rios
congestionamento de canoas.
Geada
Nas montanhas distantes
Geadas constantes
Se afogam no abismo.
Nos trilhos do trem
Ferem-se nas pedras quentes
Pés desprotegidos
Livro nas mãos
O poeta declama
Chapéu na cabeça
Em frente à igreja
Árvores, carros e vento.
Pessoas vem e vão.
Céu Carioca
O calor é tanto
que as núvens fogem do céu
deixando o Sol nu
Nos fios do poste
Andorinhas se empoleiram
Vendo o pôr-do-sol
A brisa da praia,
Neste calor, chega a ter
Um gosto salgado
Asfalto enxarcado
Sob o Sol escaldante:
Ilusão de calor.
Erosão
Água mole em pedras
duras Tanto bate até
que faz escultura.
O sol é o mesmo
A água é a mesma
Eu é que sou a lesma!
Reflexão
Sou casca no chão
Sou raspa de pote
Sou minha insurreição!
Coração do Mundo
No pulso da palavra
sinto bater
o coração do mundo
Milhares de filhotes
Na maré de primavera
Também borboletas!
Risos pela casa e
Também tantos cheiros bons
É dia das crianças.
Há trafego intenso
Vendo o ipê amarelo
Meus olhos descansam.
Trabalho contente
A música das cigarras
Vai marcando o ritmo.
As cores sumindo
No girar do cata-vento
Menino surpreso.
Varro, embevecida
Sinfonia de cigarras
Alegra a faxina.
Outono em fuga
Assustado com o frio
De cara feroz.
Outono chegando.
Coleirinha já não canta
com mesmo vigor.
Verão fenecendo
urubus formam coroa
no céu esbranquiçado.
saúda o dia
no horizonte a chuva
bons ventos em flor
manhã de laranjeiras
canta na sombra o sabiá
que calor
no verão de asas
entre cinzas do céu
o branco das garças
os juncos no lago
estão verdes
curva-se a garça branca
as rãs no lusco-fusco
conversando no pântano
eu ri
Libélula pousa –
a sombra lhe apanha
antes que voe.
Lua refletida
no rio peixe salta e
cai no prato.
Susto no jardim
a cigarra e uma placa:
proibido fumar.
O espelho da água
me traz ao rosto uma ruga
a brisa ou o tempo?
Suavíssimo choro
de menino ouço vento
surrando bambus.
as flores pretas
animais todos gordos
vamos para a praia
1º haicai
Ouço o relógio
no silêncio da noite
apenas isso.
Não há silêncio
igual ao das noites
de Curitiba.
Pombo selvagem
observando os carros
do fio à estrada
Um só toque
A profundeza
dum prato envelhecido
com sabedoria
Na sopa boiando
depois do ataque;
a mosca kamicase.
Avião que no sonho
não consigo abater
mosquito zumbindo no amanhecer.
Ruídos no telhado
pingos
musica no feriado.
Caneta gira
ao reflexo do sol
gira gira girassol
Do tinteiro
palavras saem
amor verdadeiro.
No ônibus
a chuva cai
do ponto,ninguém sai.
Na rua,
água corre sem beira,
no bueiro,uma cachoeira.
nadam no vento
como carpas douradas
folhas de bambu
Cores de Abril
Pensar no que é seu e meu:
desejos vitais
Junho sem festas.
Friozinho me deixa mole
de tanta saudade!
Saudade de mim.
Festa junina da menina
que um dia eu fui.
Manhã de frio.
Na janela embassada
seu nome está.
Noite Fria,
penso em ti e esquento
meu coração só.
Calor e chuva
Caminham pela janela
Lágrimas de outono
beija-flor
quando te vi
não estavas mais lá
mingua a lua no telhado
mia (grave) faminto
um gato
é preciso pouco
andar na senda da noite
basta um vagalume
o verão despede-se
tem o sabor da saudade
antes da partida
deitado na rede
solitário vaga-lume
apaga sua chama
rua de folhas secas
sob os meus passos sem pressa
uma borboleta
são flores silvestres
o sol segue a trilha mínima
o orvalho cintila
Equinócio (para Harumi)
Hoje, ao Norte,
A Primavera se volta
Nova ao Sul.
uma libélula
pousa em outra libélula
ah, o amor!
folhas ao vento
é outono
pássaros perseguem as folhas
gotas de orvalho
cobrem a borboleta
camuflagem de prata
debaixo das folhas
formigas se agasalham
frio de inverno
o crisântemo branco
ainda que pisado
é crisântemo branco
Arco-íris no céu
Está sorrindo o menino
Que há pouco chorava
a viúva-negra
na calada da noite
sempre sozinha
na teia de aranha
pernilongo desafina
fim da picada
Paisagem
Minha natureza
Sorrio por este encanto
Musa, inspiração.
A minha árvore
A vida e a morte:
um doce mistério,
profundo verde encanto.
Trovão
Gelou num instante
Algo muito diferente
Deu nó meu coração.
Floresta
Maluca condessa.
Fogos, paixões e rumores!
Um novo caminho.
Ventos
No meu pensamento
Há vida desconhecida.
Sinto tua presença.
Suave impressão de asas
abrindo em tempo-semente
e pausa suspiro
Conspiração no Azul
pincelada de silêncio
para a cor primordial
Desfia e tece a prece
rosário vivo e disfarce
de lágrima leve
Estrela contida
em fenda de longínquo azul
veste-se de nuvem
O Cruzeiro do sul
no céu de anil reluzindo
a paz do Brasil
O quadro
Sem sol, só o vento
Sua tristeza completa,
Aqui Silencioso inverno.
Fim de tarde
Do céu bela aurora
Do mar doce maresia
Do dia perfeita hora
Sabiá no galho
O vento sobe na árvore
para ver o canto
Tempo do Vento
O tempo do vento
Corre sem parar
Carrega sementes
Novos ares respirar
Vento traz palavras
Sentimento é semente
Vai brotar no tempo
Tempo traz vento
Natureza canta e desencanta.
(Poeta)
Viajar no espaço
Coração do amanhecer
Delírio eterno.
(Amor)
Suspira o corvo,
Evoca rios de ternura
Musgo do amanhã.
(Morte)
Ponte da verdade
Córregos da Memória
Castelos da ilusão.
(Chuva)
Gotas de vidro
Espelho da penumbra
Alívio da manhã.
(Epiléptico)
Ser imperfeito
Peregrino de sonhos
Cão vira-lata
Com o por-do-sol
A vida se vai,
Fico só.
No vento que varre o mundo,
A sujeira fica
Dentro do coração fecundo.
Garoto fuma crack
Na esquina, um baque
Policiais combatem o crime.
Os raios brilhantes
Não rasgam o céu,
O Cobertor da alma.
Da terra ao céu
Há muitas coisas
Verdade, tire o véu.
Voa andorinha,
Risca o céu e arrisca
Um mergulho agorinha.
Sol na minha porta,
Brisa na minha janela,
Ondas marulhando.
Quando amanhece,
Beijo a brisa que me beija:
O dia agradece.
Borboleta!
Pousou na minha mão
me viu e voou.
Primavera!
A borboleta
vai e vem por aí.
Flor roxa
caiu no chão.
Meu primeiro amigo
veio e varreu
Vento.
A folha cai no chão
outras mais virão
Dia de sol.
O céu!
Sou amiga da nuvem branca.
Ata ou desata
Nos passeios da beata
Tem dias fatais
Haikai
O poema mais belo
quero escrever no teu corpo:
te quero, te quero...
Haikai
Um haikai já basta
pra dizer dessa nuvem
que vem e que passa
Haikai
A gaivota brilha
mais intensa do que o sol.
Rainha da ilha.
Haikai
Uma pomba passa
Deseja tocar o solo
Alumbra-me a graça
Tatuagem
Procurando flores
borboleta pousa
entre minhas sardas.
Tarde de verão
lagarto sem cauda
passeia tranquilo.
Sombra no mato
passarinho assovia
avencas ao vento.
Passarinho posa
seu peito vermelho
para fotografia.
Vento balança
folhas de plátano
caem no chão
Letras soltas
Palavras com sentido
Livro concluído
Automóvel
Ford Ecosport
Sonho realizado
É primavera
Cidade florida
Alegria do povo
Mato molhado
cobra rasteja
passou de repente
Por trás da cortina,
o passarinho não vê
que aguardo o seu canto.
folhas caindo
tapete colorido
do meu destino
flores a volta
chega a primavera
a me colorir
um haicai proce
jovem tão primaveril
alma juvenil
Dia memorável
Quinta feira afinal
Tempo canibal
Um haicai proce
Jovem tão primaveril
Alma juvenil
Psiu
Ao ruído vence-o
mais cedo ou mais tarde o quedo
profundo Silêncio
Om
O universo é Bom.
Seu tom é contínuo, som
que ecoa em mim: Oommmm
Oh! Sábio foi Bashô
Vem Bashô na trilha
estreita: olha acima e "eita"
um haicai lhe brilha
Através se ia
Tão estreita a ponte,
um risco. Cruzá-la, um risco
de um a outro monte
Eis o meu haikai:
Contido porém florido,
Bom (como um bonsai).
O dia inteiro
Passa ligeiro
é a vida, companheiro!
calor do verão
sol a pino
vira pimentão o menino
Venha senhor trovão
Só não vá virar o vinho,
Nem deitar o pão ao chão.
O bom da vida
é ser rio,ser mar
Ir indo até chegar.
Medo de tudo
mimosa vai e cura
flor d'alma a vibrar
Sentada, agua
na pedra a ressecar
ao sol, lá só.
Árvore velha
cansada de lá estar
vira os galhos e cai.
Pomar de caquis
Podados com cuidado
Sem harakiri
Pérola no ar
Alva reluz e seduz
Quebra-se no mar
Uma sereia
Mar que canta encanta
Traz à areia
Pena flutua
Espada infundada
Jaz fria nua
Fiquei com pena
Com minha pena voei
Caiu poema
Lua cheia
Tuiuiu de perna fina
Saci Pererê aproveita e assovia.
Rio Paraguai
Camalotes em flor
Cadê o meu remo?
Gotas ao chão
Tudo escurece
Solidão
Vi a pereira
Tive que concordar
Uma noiva ao luar
Manhã inspira
balaio de ideias.
Só fruta verde.
Ela diz que sim.
A lua esquisita
é um eclipse
A folha se vai
embarca em qualquer som
rio abaixo.
Flor declarada
o vento puxa da mão
pra se perfumar.
Ao sol das cinco
a sombra da minhoca
surge devagar.
vento de outono
carrega das secas folhas
o tempo passado.
vida que te espera
das flores da primavera
nem é só quimera
a lua descortina
estonteante nas estações:
em qual a mais bela?
pica-pau pinica
na fenda da amendoeira
o suco da vida
o amor desvendara
num indelével inverno
o célebre enigma.
Bailado de folhas
Vem do sul a brisa fria
Outono chegando!
Primavera vem.
Multicolorindo os campos
Borboletas mil.
Harmonia de cores.
Espalhando a primavera
Borboletas voam.
Borboletas mil
Multiplicando jardins
São flores aladas.
Sabiás na mata
Vem prenunciando a chuva.
É o verão que chega.
Contornos negros
num céu laranja
entardecer na estrada
madrugada fria
lua alta brilha
iluminando o jardim
Entardece,
Gaivotas riscam o céu
Flores brancas nascem na mata
Sobras negras
sobre horizonte vermelho
por do sol na cidade
Rumor de fogo
encheu a noite
A colina amanheceu queimada
Névoa da manhã
Sol nasce sobre o azul
Mediterrâneo
Um mimo vivo
Trevo de quatro folhas
Chance!
A flama brilha
Silêncio da noite
Fascínio da mariposa
nA quinA hÁ bolor
e no estÂmAgo do fungo
A Ácida sAudAde
a chuva cai forte
e os ruídos que sobem
corroem meus olvidos
Da janela do ônibus,
por entre fendas de casas:
um brilhante rio
asinha, asinha
a nina borboleta valsa
e vai-se
Nunca se luta
Com a gota pendida
Na borda de uma telha
Final de tarde
as andorinhas pousam
em nossos varais
Dia de chuva
de um mal me ataco
o desalento
manchada de roxo
a serra do mar também
guardando a quaresma.
sábado de aleluia
os sapatos deste judas
melhores que os meus.
chapinhando a água
o vento da madrugada
brincando com a lua.
cai junto com a flor
a mamangava peluda
jardim outonal.
noite de outono
parece disco quebrado
o canto do grilo.
O grito é mudo
o olhar no entanto
Diz tudo!
Ele
encontro. Ele
se foi momento
tá tudo certo
espero. Ele
desterro erro
dilema aceito
ventos sopranos
enganos tantos
turbilhão de sofrimento
flor
imposto ser
falso viver
flores irão morrer...
talvez o hiato
a falta certa
a mata verde e o poeta
No outono as folhas
Caem e o caminho
Tapete se transforma
No entardecer
O azul celeste
Manchado é pelo arranha-céu
Sou capaz!
Nem moça, nem rapaz
Preciso seguir atrás.
Inverno!
Lenha empilhada,
branquinha de geada.
Eclipse:
A terra esconde a lua,
com ciúmes do sol.
Dia grisalho
brotos brotam brutos
na ponta do galho
Na chuvosa manhã
Pelo menos a orquídea rosa
Inicia a primavera
Haicai Junino
Cai não, balão...
vive o sonho:
estrela nova na constelação.
Solistício:
o dia, combalido,
pede à noite armistício.
Flores azuis
no fundo de águas rasas.
Dama-do-lago.
A mãe aflita
diante da incubadora.
Pinguinho de gente.
Sob a névoa fria
o abraço acolhedor.
Corcovado.
Papagaios
no céu nublado.
Saudade da asa delta.
Abro o baú
no porão sombrio.
Ah! Soldadinhos de chumbo.
Arte da coivara:
Sem rogo, na mata, fogo.
Taramela a arara!
Águas de verão.
Piabas, caboclo, acabas!
Viver, viverão!
O pássaro voa
Bate contra o vidro
A vida acaba
O tempo virou
Apressam o passo as saúvas
Onde o guarda-chuva?
Chuva de outono
Folhas secas de momiji
Entopem a calha
Cruzo o viaduto
Recitando o velho mantra
Pronto para o dia
Trovões ribombeiam
Como salvas de canhões
Cachorro se esconde
Triste despedida
Que fazer com esta carta?
Outro origami?
A vida é bela
Aprecie a natureza
Abra a janela
Anoitece
Atrás da colina
O sol adormece
Amo primavera
e o seu calor em cor
e o seu botão se abrindo, menino!
A Brisa Que Sopra
É O Melhor Refresco
Neste Dia Quente
Na Vida Do Pobre
Bebida Amor E Mulher
É O Seu Consolo
Homenagem A Bashô
O Mestre Bashô
O Poeta Em Miniatura
O Pai Do Haicai
Domingo
Comida Farta
Encontro De Família
Domingo Feliz
Cuidado De Mãe
Entra Menino
Você Vai Ficar Doente
Aí No Sereno
Lua crescente.
Onde está a outra parte?
Derramou no mar.
Silente,
o Buda cala
mas não consente.
O haikai da drag
"Póc, póc, póc" ouço,
"Pode ser u'a drag...". Viro pra ver:
Um bagual pilchado!
Ploc... E Ploc...
O milho aquecido
Vira pipoca
Sinto no rosto
Um carinho natural
O vento soprou.
Cigarras cantam
Nos grandes arvoredos;
Depois perecem.
Roçando grama
Bem-te-vis e os Tejos;
Caçam insetos.
Coruja voa
Espreitando o rato
Que passeia só.
em zigue-zague
mosquitos-pólvora pairam
final de tarde
a filha
corre no gramado feliz
foge o sabiá-poca
poeirão
se levanta no caminho
secam meus olhos
cedo no elevador
em rodopios sem nexo
pernilongos aflitos
A vespa atrai
uma cova pelo inseto
ovos na barata
Joaninha caminha
no braço da menina.
Olhar encantado.
Dia do Carteiro
filhos o aguardam à noite
com festa surpresa.
Sertão nordestino
mandacaru solitário
enfeita a paisagem.
Janelas fechadas.
Lá fora, uma frente fria
pedindo passagem.
No meio da noite,
um súbito despertar.
Pernilongos a postos.
Manhã de inverno,
ouço calado
o vento gelado.
Noite escura,
chuva fina esconde
a lua cheia.
O bambu não cansa,
o ano inteiro
na mesma dança.
Chove de mansinho,
na manhã de primavera:
Frio tropical.
No baile das flores,
beija-flores fazem festa:
Eis a primavera.
Caminho do mar:
A navalha no meu rosto
corta que nem gelo.
Meninos brincando,
Na cama de gato cai
Quem dorme no ponto.
Na tapera velha
Há digitais nas paredes:
Registros humanos.
luzes da cidade
uma folha de papel
cai não cai na brisa
circulam iPods
nas órbitas do haijin
balada no bosque
no alto de um cipreste
ave branca contra o sol
recorda o Natal
calor na nuca
sol lá fora me faz
sombra dentro
já águas passadas
a gotejar das marquises
ecos estivais
olhos verdes
no balanço dos mares
pétala da minha vida
a lua ilumina
na roda do chimarrão
o choro do violão
te quiero mucho
pero mucho sabes
como las estelas
o toque do sol
no corpo sedento
ardente mistério
o tempo é curto
a música vai acabar
dança comigo
sol em plenitude
uma rã pula em versos
barulho de Vida
Uma flor desabrocha
para a vida.
Alegria no jardim.
Pássaro curioso
na janela.
Bem-te-vi.
Vejo o tempo
que passa.
Cabelos grisalhos.
O vaga-lume à noite
acende sua luz.
Pisca-pisca.
Cerejeira ao vento
Samurai repousa espada
p'ra assistir as nuvens
Lareira
O inverno que venha
Cinzas me falam do frio
pra eu buscar mais lenha
A Lua travessa
Brincando com os pescadores
crescendo a maré
Navegar é preciso
Se viver não é preciso,
sem lemes ou astrolábios
navego bem em teus lábios.
Chegou o verão!
Sob sol e chuva crescem
Sonhos para o ano
Inebria a rua
perfume de gardênia
É primavera
Perfume no ar
na rua ao luar
Noite de primavera
Rua perfumada
pela Dama da Noite
Flor de primavera
Chuva de Primavera
Só pelo prazer de olhar
A tarde toda
As folhas secas
caem com a ventania
sobre o riacho
Entrada do templo
As flores da sakura
Na cabeça do Buda
Entrada do templo
Os galhos de sakura
na cabeça do Buda
Tarde de inverno
O por-do sol sumiu
em meio a poeira
Noite escura
Estrelas
Pastam no chão...
Para Leminski
que dose
cachorro doido
morrer de cirrose
Para Manoel Bandeira
tosse tosse
e arranca todo catarro
do coração
viagem de trem
entre as estações
a primavera
no poste
duas casas de João-de-Barro
rua iluminada
flor na tapera
ruína
produzindo primavera
no relâmpago
movem-se as vozes
do firmamento
as vozes da chuva
emudecem
as cigarras
vozes no brejão
o cururu dos sapos
ecoando noite adentro
o brilho dourado
por detrás das nuvens
seria eldorado?
soluços
um tronco oco
um grilo
Ridículo anuncia
Sua diversão
Ressoa Indignação.
Irmãos, poucos
Loucos, santo
Tantos, solo.
Fez barbaria
Achado o caos
Vejo só a mentira.
brisa suave:
voejam borboletas
por todo jardim
roupa no varal
a borboleta pousada
na anágua da vovó
café da tarde
na mangueira em flor
farra de pardais
gato perdido
dorme sobre o borralho
do velho fogão
zunem as moscas
em baixo da mangueira
frutos maduros
Chuva batendo
No batente
Som dormente
Haicai que dá barato
Recebe, Leminski,
Meu muito obrigado
Saliência rubra
Teu sexo exala
Um cheiro de fruta
Soneticamente falando
Haicaio de quatro
Por você
telhado de vidro
parecem ter frio
as andorinhas lá fora
todas juntinhas...
sopro-de-vento:
pardais se agarram
nos fios de luz...
vestido florido
dançando na noite
a moça é a estrela...
entre flores velhas
o som da abelha
treme flores novas...
são os plátanos
à beira da estrada
espantalhos?
Beira de mar, vara, anzol
a pesca refresca na água
pescador queima no sol.
Por do sol no horizonte
pinta o céu de laranja,
para os olhos uma canja.
Barco vai mar adentro
entre ondas revoltas,
será que volta?
É tarde, escurece,
a lua se esforça
mas logo aparece.
A rotina é essa,
dia de nova dieta,
cotinua gordo o poeta.
No meu Hay kay
A matemática poética
Vira apoética
Vera minha prima
No verão da lua
Primavera
Putoesia
Senti o putoeta
Sua realidade
Primavera-me
Borboleta anarca
Flui sem dizer nada
Haicai VII
Noite de silêncio
Uma moça na janela
Contempla a neblina
Haicai XV
Cinco lobos correm
em noite de lua cheia.
Uivos na floresta
Haicai I
Suave crepúsculo
Sol emoldurando o ocaso
O pássaro sonha
Haicai II
Surge a primavera.
Borboleta colorida
Encanta a manhã.
Haicai III
Tuiuiús no ninho.
No calor do pôr do sol
Dorme o pantanal.
Árvore amiga
enfeita meus cabelos
com flores amarelas
Libélula inocente
cai na boca do sapo
que mora na lagoa
A serra silencia
só se ouve agora
o grito do pardal
Duas andorinhas
uma andorinha
acabou o verão
noite em claro
pai e filho observam
a lua de outono
lembrança de menino
fazendo cócegas na mão
a cauda do girino
parede do zendô
um mosquito pousa
o tempo voa...
cantam os pássaros
aqui e ali; deito na rede
e começo a roncar
primavera alegre
a papinha colore
a roupa do bebê.
Caquinho de Lua
Sorri pra mim lá no céu
retribuo daqui
Um Sol ameno
brotou no entardecer
trouxe um riso
Não sou árvore
Sou um passarinho
João de Barro?
Lua amassada
de bater meu coração
por ela tão branca
Olhei para cima
Vi a boca de palhaça
da lua crescente
Nas frestas das árvores
o sol, a névoa, a poeira
novo amanhecer
Amanhece em flor
e anoitece pelo chão
efêmero ipê
Uma folha cai,
mais uma e mais mil e uma.
Era outono, enfim!
A cada minuto
o mundo muda de cor
é fim de tarde
Frio da manhã
os pombos aglomerados
parecem mais cinzas
chuva pelo bairro
luzes da rua telegrafam
papo de fantasmas
chuva intensa
fila de guarda-chuvas
na saída do templo
chuva de verão
meu pai busca o horizonte
na fresta da janela
tardinha de março
carros abrindo estrias
nas ruas alagadas
flores de ingá
sobre o carro molhado
o verão que finda
um dia a casa cai
e nasce dos seus escombros
um novo haikai.
livro fechado
palavras em silêncio
natureza morta.
brilho molhado.
olhos marejados
evocando saudades.
Cantoria infernal.
Os gatos namorando
no fundo do quintal.
Tempestade repentina.
O cheiro de terra molhada
invadindo as narinas.
outono ou inverno?
caem as folhas confusas
no seio materno
a cigarra canta
enquanto orquídeas florescem:
cada um na sua
enquanto divago
vai nadando feito um rei
o cisne no lago
o vento de outono
como um pássaro que passa
partiu sem adeus
lá se vão as garças
vão pairando sobre o rio
vão cheias de graça
Placa de "Proibido"...
No imponente poste de luz
xixi de cachorro.
Sempre lembrando
a cama, o jovem aluno:
segunda de inverno!
Vento na cortina:
Na tarde de inverno
melancólicos haicais.
Segunda-feira:
Não era ainda a primavera,
sono de criança.
Folha branca
sem palavras, sem desenhos
Frio de agosto.
silêncio profundo
só o respirar das flores
no sopro da brisa
espantalho ao vento
num campo de girassóis
pardais sobre os ombros
passeio campestre
no vestido e nas sandálias
o aroma do mato
um rumor de asas
na vidraça da janela
vem caindo a noite
na manhã de bruma
os dióspiros vermelhos
vai nascer o sol
Vejo as cores
Das flores do Amarílis
Chegou o verão
Cheio de sonhos
Atiro na lixeira
Folhinha velha
Bolha de sabão
Colorida e frágil
Como a vida
Também os patos
No pequeno lago
Parecem imóveis
Vejo outra vez
Flores do ipê roxo
Num céu todo azul
No Planalto Central,
as cigarras cantam sangue.
A Justiça dorme.
Uma quaresmeira
roxeia o cerrado.
Dói um coração.
No verde da praça
a rã salta, salta, salta
e assusta quem passa.
Na estreita calçada
o bípede e o quadrúpede
presos na cordinha.
Sapato furado
em dia de chuva fria,
resfria um coitado.
O piolho arteiro
desconcentra o aluno e a classe
e o mestre reclama.
O galo não cantou,
A lua azul ainda brilha,
Inicio o zazen.
O sino acaba de bater,
Chinelos à beira da porta,
Vento, silêncio...
Pardais ciscando,
Pedras enfileiradas.
Alvorada morna...
Shinai em riste,
Pássaros cantando.
Caminho real.
Verão em três linhas,
Ou apenas em uma.
Viver em haicai...
Sol de primavera
O despertar das flores
É quase um sussurro.
No jardim
Dando passeio
Vai a borboletinha.
Lua cheia
Que brilho intenso
E que calafrio.
Dentro do grilo
Um grito verde
Desfolha-se.
A vaidade do pavão
Perfila-se
Entre a primavera.
Haicai de primavera
Logo após a chuva,
a festa dos bem-te-vis
revoada de insetos.
Haicai de verão
Sobe, faiscando,
o cardume pra nascente
nova piracema.
Haicai de outono
No clarão da lua,
que pinta o lago de prata,
esse ar de mistério.
Haicai de inverno
A mocinha tímida
abre um sorriso faceiro
correio elegante.
Haicai de primavera
Uma frente à outra,
floridas sibipirunas
trocam amarelos.
eterno Fuji
realça com sua alvura
a paisagem clássica
festival de cores
e de excitantes sabores:
são frutas do outono
é só um instante:
o beija-flor no ar, sugando
flor de laranjeira
calma dormideira
relaxa em seu verdor:
tocada, se fecha
invadindo a noite
o vento da primavera:
as estrelas brilham
Árvore seca
na floresta úmida
que amor lhe faltou?
Toda a beleza
do muro verde da montanha
traz saudade
A blusa parou
no rego dos teus seios
a mão virtual
verão com sol de ouro
dourado mas inclemente
desidrata folhas.
Excesso de chuvas
a desequilibrar a árvore
raízes se afogam.
beija flor perplexo
sem encontrar umidade
nem no bebedouro...
fruto esturricado,
não pode ficar no galho
romã na calçada...
vento a derrubar
bem antes da tempestade
cigarras avisam...
De flor em flor.
Cada abelha levando
recados de amor.
Pequeno (menino) Haikai
A lagarta virou
uma nova palavra.
Casulo!
Pé de ipê!
Dá dó de varrer
o tapete lilás.
Livre trinado:
Vreli vrelivre livre
repete o sabiá no fio de luz.
Castelo de Areia:
Seriam as pombas e gaivotas
a corte da princesinha
do quarto crescente?
Ah, dama da noite
Tempo distante não volta
Saudade, saudade
bacia da crescente
sobre as folhas da palmeira
côncavo e convexo
guri ajoelhado
lá se vão os três reis magos
de volta à caixa
olhos dos meninos
as luzes do pisca-pisca
se multiplicaram
o véu da cascata
nesta noite de luar
finas gotas frias
quantos pirilampos
posso contar esta noite?
caminho enluarado
as ondas vêm
e vão para ninguém
maré outonal
a lua aparece
entre nuvem e outra
o brilho é igual
chuva constante
o guarda-roupa mudou
agora é varal
eu em demasia
não fosse
a poesia
noite de outono
na companhia da chuva
eu volto pra casa
chuva de verão
transito no trânsito
chora coração
outono
mudam folhas
mudam planos
medo no coração
tirito
a mais fria estação
primavera
mergulho na ilha
bela
mãe
matriz
eterna aprendiz
Canta alegre o sabiá
faz folia o bem-te-vi
natureza assovia
Periquitos na palmeira
nem sobrou coquinho
vôo sobre o pomar
Com este calor
sapo não vem nadar
medo de virar rã
Pelo calor de agora
pinhão no inverno
quente, quentão
selva de pedra
condor solitário
vôo triste
vento na mata
pica-pau se abriga
madeira forte
lua de prata
desejos indecentes
corpos suados de luz
inverno frio
corpos soltos ao luar
ondas quentes
tarde chuvosa
amantes se entregam
opostos se atraem
no canto da janela
nova linha do horizonte:
o fio da aranha.
vôo dos pássaros!
fio costurando ligeiro
o céu ao mar.
tal nuvem no céu
em tarde de vento forte:
lembranças se vão!
no capim orvalhado
guarda-chuva de renda
a teia de aranha
pintassilgo!
o céu pinta consigo
a cor da manhã.
Canoa ancorada
no embalo da maré
o vôo da garça
Soleira da porta
silêncio dos avozinhos
em meio à modorra
Estação de trem
tantos lenços acenando
em meio à garoa
Súbito no campo
os cavalos em galope
rajada outonal
Noite já se faz
nas ruínas da capela
luz de pirilampo
Nas águas do mar
Águas-vivas flutuam
Tranqüilamente ...
Em pleno verão,
Águas-vivas descabeladas
Passeiam pelo mar.
No fundo verde,
jogadores se preparam.
Deu carambola!
Sol, praia cheia,
meninada surfando,
Férias de verão!
O sol já nasceu,
meninada na cama.
Férias de verão!
um ária
pesa menos
o ar
barro já seco
por pegadas de sapato
passeiam formigas
sem mar
que gris o sol
do peixe
caem as mangas
no pátio do sonho
talvez em outros
noite de junho
uma sombra e seu cão
urinam bancas
No final da tarde
todos estão apressados
Chuva se anuncia...
De repente, latidos,
entre as plantas do jardim,
um gatinho aflito.
Manhã de verão
Plantas no jardim, tombadas,
suplicando sombra.
Bolhas de sabão
perseguidas pela praça
Crianças sapecas.
A frágil libélula
repousando no capim
Bailado do vento.
Silenciosamente
Sinos badalam na tarde
Brinco-de-princesa
Balanço de rede
Ao longe um rádio ligado
Tarde modorrenta
Mensagem no ar
Tributo à minha saudade
Sabiá-laranjeira
No frescor da sombra
Caldo pelos cotovelos
Manga madura
No dedão vermelho
Lateja meu coração
Ferrão de abelha
Maré outonal.
As ondas quebram na areia
Bem devagarinho.
Dia das mães.
Anda solitária na praia
Uma criancinha.
Tarde brumosa.
Bondinho do Pão de açúcar
Fica invisível.
Sobre o mar do Anil
Despedida de andorinhas
O céu escurece.
Fiéis se reúnem
Durante a Semana Santa
Os terços balançam.
siriris batendo
na lanterna de papel
barulho de chuva
Muda
na terra úmida
aterra muda
prosa de chuva
deságua em trova
trêmulo trovão
Primavera
prima-flor desabrocha
obra-prima
Pequena flor
Sol contido na cor
Ipê amarelo
Passando o Ano Novo
com minha filha, na estrada
mochilão nas costas
Nunca fui tão pai
um sorvete de pavê
para dois sorrisos.
Chuva de verão
o cheiro de terra quente
abafando a tarde.
O som do aguaceiro
nas folhas da bananeira
de prender o fôlego.
Dez mangas enormes
numa árvore de dois metros
santa terra esta!
À beira da estrada,
o casal tirando fotos
do arrozal de outono.
Noitinha de outono
Da varanda vê-se a rua
ficando vazia.
Final do desfile
O mestre-sala esperando
por uma carona.
Exames Finais.
O suor de minha mão
manchando o papel.
Passeio de Férias.
No menu do restaurante,
atum com salada.
Tarde de outono
Perseguindo folhas ao vento
O gato dançarino
Estrada de pó
A casa pobre
Desabrocha em flores
Pátio vazio
A cantiga das crianças
Ainda soa ao sol
Chama da vela
A noite acende
Um céu de dentro
Fim do dia
O velho e a árvore
Trocam silêncios
Preenchendo o vazio
das tardes intermináveis,
a cigarra canta.
Pede ajuda ao vento
pra abanar sua roupa velha
esperto espantalho.
Na ronda da morte,
sobrevoando a densa mata,
sinistro urubu.
Alta madrugada,
sabiá boêmio entoa
um lânguido canto.
Obreiras formigas,
transportando mantimentos,
à casa retornam.
caminho por letras
aqui dentro uma tese
e lá, borboletas
pingos roxos
em meio às águas verdes
pétalas de ipê
uma folha cai
o chão cheio de folhas
o vento distrai
Nesse fim de mundo
Um girassol solitário
A quem marca as horas?
Vaga-lume no quarto
Não fosse só de passagem,
apagaria o abajur.
Primeiro no morro,
depois onde tomo brisa
cai a noite na vila.
Velho no farol
vendendo buquês de rosa
O sorriso é brinde.
O gato se estica,
boceja, retoma o sono
Assim vai o domingo!
Noite de saudades
de tanto acarinhá-la,
já desbota a foto.
Lótus
lágrima entre sobrancelhas
a pinta negra em kajal hindu
pérola
Encostas do Rio Dong
nunca mais
mergulharei em tuas águas
ó cios do Indizível
Pontes de Wang Ho
com as cheias
as águas
vão subir
Chuvas no Golfo de Sião
tentando os deuses
se esconderam para além
do oceano de jade
Baía de Ha-Long
gota d'água
perdida
no oceano de jade
meus hai-kais:
lápis caídos
de um estojo frágil
tarde chuvosa:
a cidade absorve
luzes cinzas e água
café-da-manhã,
bem-te-vis gritando:
que bom acordar!
litoral sul:
pescadores, cães
e dias preguiçosos
no vaso,
margaridas amarelas
no dia de Reis
O Tempo cochila
em tardes quentes de sol
no banco da praça.
Árvore curvada
tentando catar folhinhas
caídas no chão.
Cena oriental:
uma palhoça medita
no meio do pasto.
Pegadas na areia.
Natural fotografia
de vidas em trânsito.
Palmeiras vassalas
abanam com verdes leques
o Tempo que passa.
Flores no jardim.
Uma abelha pousa aqui
e depois se vai.
No colo da mãe,
Sem soltar o cata-vento,
Dorme a menina.
No rio, o barqueiro
sem lanterna ou farol.
Somente o luar.
Fenece o outono.
Recordo meu velho pai.
Caem folhas e lágrimas.
A cerejeira
cor de rosa florida
ficando verde.
aquela estrela
ali tão pequenininha
mas como brilha!
foi-se o verão
entre folhas secas
uma borboleta
primeiro dia de outono
tomo aquela rua
ou não tomo
panela velha
no avarandado novo
vaso de avencas
depois de horas
nenhum instante
como agora
conversa de adultos
debaixo da mesa
adormeço entre brinquedos
faróis desligados
os namorados
e a Via Láctea
alvorada insone
os pensamentos enevoados
e a névoa da manhã
o tempo ainda não passou
canta no galho mais alto
o sabiá-laranjeira
chuva de domingo
muito fraca
caminho entre os pingos
aceita
o vôo é o leito
da borboleta
a lua de langerie
ao longe
ri de mim
a chuva me cai
como uma luva
me OH!rvalha
Arco-íris no céu,
chega ao fim o temporal:
tobogã de gnomos.
Lua refletida
na superfície do lago:
retrato da noite.
Agarrada à folha
a formiga com firmeza
desliza na brisa.
No céu da floresta
os pirilampos se acendem:
desce a Via Láctea.
Papagaio no ar:
um braço feliz de criança
a brincar nas nuvens.
ave calada
ninho em silêncio
na madrugada
espiral de sol
luz nas frestas da
escada em caracol
ágil pivete
brinca como se fosse
zero zero sete
sossego acaba
chegou a pamonha
de Piracicaba
trigo dourado
pelas mão do vento
é penteado
Veloz bicicleta
No rigoroso inverno
Ficou esquecida
Tempo imprevisível
Me pegou desprevenido
Que frio congelante!
Mata devastada
Vence a luta pela vida
Cachos do Ipê roxo
velhinha na janela
todo mundo que passa
é visita pra ela
no mesmo galho
uma formiga a passeio
outra a trabalho
longa conversa
um grilo termina
o outro começa
instante do passarinho
fui olhar
fiquei sozinho
o sol faz o que deve
nasce no Japão
morre em Porto Alegre
Sol de meio-dia
um girassol telescópico
circunavegando
Um pardal tal qual
beija-flor, sorvendo no ar
tanajuras em flor
Na teia de aranha
as gotículas de orvalho
aprisionadas
Vento sudoeste
os barcos na tempestade
castelos de areia
Solo de cigarra,
no fim da tarde, é núncio
de a hora do ângelus
Se o laço do obi
voasse ao ikebana.
Borboleta azul?
Formigas na porta
carregam o corpo
da cigarra morta.
Se mira na poça
de lama do pátio
a lua vaidosa
Choveu de manhã:
as lagartas abrem trilhas
na folha de urtiga
Como um prisioneiro
a lua me espia pelas
grades do banheiro
Ameixa preta
quando ainda está verde
fica vermelha ...
o infinito
em meus versos medidos
enfim, contido
o vento sopra
cabelos esvoaçam
momentos passam
Nada havia ali
na verde via, nada
a ver, havia.
enamoradas...
as nuvens cinzentas
apagam o sol...
dia após dor
após dia, luz após
dor após lua
o tempo? viagem
do pó ao pó os pés,
os paus e pedras
a lagarta
olha no espelho
a mariposa
praia de corais
mulheres de água,
peixes de luz
esse canto
é azul, azul, azul
quase branco
Flores no jardim,
Jabuticabas no quintal!
Eis a primavera.
Visitas na sala
Homem muito gordo senta
A cadeira estala
Franchetti
Toma nota, rapaz:
Hai-kai é a captura
De um momento fugaz
Barulho
Barulho d'água
Mulher no tanque
Ensaboa e enxágua
Cascavel enrodilhada
Desmente a paz prometida
Nos gorgeios da alvorada.
No auge do verão
Rã saltou na cacimba
Silêncio no sertão
Sol no templo
solto o tempo
só contemplo
A grama diz
o que o vento diz
o indizível bis
Tarde de outono
Assustada a coruja
Acorda com o trovão
Inverno no cerrado
O vento seco trinca
O pé descalço
Flor do cerrado
Na primavera seca
Só o ipê floresce
verão candango
o amor da menina
jorra do selim
o outono é ela
a folha que cai
sou eu
dissolve-se a névoa
no socavão da montanha...
dormitam cavalos
um raio de sol
transluz balança a cortina...
borboleta amarela!
na fímbria das ondas
um caranguejinho aflito
agitando as patas!
outono... insone
na tela da cortina assisto
teatro de sombras!
Noite de Ano-Novo!
velho avô traz o champagne
mas dorme antes da hora...
Abro o armário e vejo
nos sapatos meus caminhos
Qual virá comigo?
Noitinha na várzea
Com a lua na garupa
búfalos regressam.
Seis hora da tarde
Sons de cigarras prolongam
os sinos do templo.
Quase desperdício
Moscas sobre caquis podres
só o sapo as come.
Sol no girassol
Sombra desenha outra flor
no corpo dourado.
no frio da água, de manhã,
pálido tremor,
outono no corpo.
aviso dos deuses,
fartos, felizes,
florida paineira.
de verde encolhido,
outonal silêncio
de lourinhos calados.
gotejar sem chuva
no jardim oculto
brumas de abril.
desfaz-se, inútil,
velho ninho de pássaros...
ao vento vazio...
planando no azul,
acima de tudo, calmas,
nuvens de outono...
dedinho rechonchudo
aponta ao céu a criança...
estrela cadente!
sorriso de mãe
a primeira flor-de-maio
abre-se enfim...
nas folhas verdes
novo fruto na mangueira...
ah!... maritaca...
O amanhecer,
Só cinco folhas douradas
No topo da Árvore
Dentro do mato
o meu carro amassado
e o silêncio...
Nesta manhã fria
o outro lado da rua
A neblina encobriu
mulher, edredom
e barriga crescente
lá no sofá
Escorre o sol
Salgando meus lábios
Passo a passo
o pouso silente
da borboleta de seda
celebra a manhã
decifrando códigos
o barco atravessa a tarde
na pele do tempo
dissolve-se a tarde
no alarido das araras
e em flocos de chumbo
o sapo, num salto
cresce ao lume do crepúsculo
buscando a manhã
caminhos cumpridos
repousam sobre meu peito
teus pés minerais
Tempos kamikases
As bombas de Oklahoma
São karmas de Nagasaki
Não sei tirar tua blusa
Mas quando meu sonho te despe
Tiro hábil tua pele
um pescador remando
o mar rimando
alguém admirando
A abelha tristonha
fauna e flora devastadas
produz mel amargo.
Os meus sentimentos
como origami no arame
sempre em movimento
eu te amo tanto
que só um pranto
acaba o encanto
com seu espanto
meu coração deu um salto
e virou pranto
não é você
que na enorme vaga
navega magra?
sopro na orelha
você olhou assustada
a cara do nada
umidade de orvalho
na folha verde da manhã
brilho de sol nas gotas
passos de pássaro
no telhado lá de casa
embalam sonhos
crianças no zôo
animais as observam
andando em voltas
filas de coqueiros
na estrada deserta
curvados ao mar...
o canto dos sapos
era nossa canção de ninar;
fim de inverno
folhas voando
minha avó sempre fazia
previsões de chuvas
libélula voando
pousando devagar
na blusa amarela
a volta ao lar
inquieta serenidade
parece que foi ontem
vaga lembrança
a neve nas têmporas
ai! o tempo ai!
vento de verão
seu sorriso ausente
sigo a poeira
olhar oblíquo
lua enevoada
sem mistério
ah! kioto
no rio
(cada vez mais)
sinto saudades do rio
Na flor premiada
Uma mutuca agitada
Disputa olhares.
Frondosa mangueira
Sua florada antecipa
Sabor da manga.
Sementes na terra
Lutam pela sobrevivência
Pássaros e homens.
Ranger do portão
Cala o grilo, late o cão
Desconcentra o poeta.
As mãos conchadas de pegar,
mas o pássaro,
mais leve, voa!
País dos gatos
Rastros de vento,
escuridão de brasas,
um salto suave.
Pra que respirar?
posso ouvi-la, fremindo,
maciez de noite.
Sou doido por gatas:
Xande comeu o canário;
amados os dois.
As garras da morte,
um afligido transbordo
nas plumas da mãe
Quase escondida
entre a casca e o tronco
teia de aranha.
Leve brisa
aranha na bananeira
costura uma folha.
Sopra o vento
Segura-te borboleta!
Na pétala da flor.
Rio seco
silêncio sob a ponte
apenas o vento.
Alto da serra
Passa sobre a terra arada
A sombra das nuvens.
Na tarde abafada,
Só a voz de uma galinha
Que botou um ovo.
Um grande silêncio
Nuvens escuras se acumulam
Sobre a terra seca.
O pássaro responde
Ao ruído da janela
Tem chovido tanto...
Manhã de frio
Apoiado num só pé
O papagaio dorme.
8 de janeiro de 2017 |
|
|